Título: Entidades vêem abuso em ações da PF e criam movimento pela "legalidade"
Autor: Raquel Salgado
Fonte: Valor Econômico, 19/07/2005, Brasil, p. A2

Cerca de quarenta entidades como OAB, Fiesp, Fecomercio e Força Sindical publicaram ontem manifesto contra o que chamam de "excessos" cometidos pela Polícia Federal em operações, e instalaram o "Movimento pela Legalidade, contra o Arbítrio e a Corrupção". O manifesto, que será distribuído a autoridades do país, questiona prisões preventivas feitas pela PF e buscas em escritórios de advocacia, tidas como "mega-operações desproporcionais que levam cidadãos à execração pública". Na última quarta-feira a empresária Eliana Tranchesi, dona da loja Daslu foi presa por suspeita de sonegação de impostos. Em meados de junho o mesmo aconteceu com sete diretores da Schincariol, também suspeitos por sonegação. No dia 31 do mês passado, a PF prendeu 24 pessoas, entre advogados e empresários, a maioria de São Paulo, e promoveu buscas e apreensões em cinco escritórios de advocacia para investigar esquemas de sonegação, lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Essas operações foram realizadas em conjunto com o Ministério Público Federal e a Receita Federal. Luiz Flávio D'Urso, presidente da Ordem dos Advogados de São Paulo (OAB-SP) explicou que o movimento irá "acompanhar de perto todas as ações da PF, defender as investigações e as instituições e, quando houver excessos, elas serão repudiadas inclusive com medidas judiciais". Apesar de entenderem as ações contra sonegação fiscal como legais e necessárias, as entidades questionam a maneira como elas são feitas. Para José Batochio, ex-presidente da OAB, avalia as operações da PF como espetáculo de mídia e afirma que há arbítrio no cumprimento dos mandados judiciais. Ele acredita que a imprensa não precisaria acompanhar essas ações, pois elas expõem os suspeitos. Em uma entrevista coletiva tumultuada, Paulo Skaf, presidente de Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) repetiu muitas vezes que a criação do movimento não tem a ver com casos pontuais, como o da Daslu. Questionado sobre o motivo que levou a Fiesp a realizar esse protesto justamente agora, após as recentes ações da PF contra empresários, irritado, Skaf argumentou que as organizações entenderam que esse era o momento para se manifestar. Ele ressaltou ainda que a reunião com o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, para discutir o assunto, marcada para sexta-feira passada e cancelada , havia sido solicitada há duas semanas. O presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, acusou a PF de realizar "esses espetáculos para encobrir o que a quadrilha do PT fez", cutucou o sindicalista, referindo ao suposto mensalão pago pelo partido a deputados da base aliada. Para Paulinho, a polícia não pode prender pessoas somente com indícios. "Se fosse assim, então Delúbio, Genoíno e José Dirceu teriam sido presos". Voz dissonante entre os participantes do manifesto, Emerson Kapaz, presidente Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial (Etco), assinou o documento, porém não qualifica as ações da PF como exageradas. "Não podemos perder a chance de fortalecer esse tipo de operação (contra sonegação e contrabando), que é muito positiva, pelo menos para quem paga imposto". Kapaz disse que o governo deixa de arrecadar cerca de R$ 160 bilhões devido a esses crimes.