Título: Marcos Valério diz que Dirceu tinha conhecimento de empréstimos
Autor: Henrique Gomes Batista e Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 19/07/2005, Política, p. A5

O nome do ex-ministro José Dirceu chegou à CPI Mista dos Correios. Os parlamentares que integram a comissão tiveram acesso ontem aos depoimentos do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza e do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares ao procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza. Valério confessou que fez cinco empréstimos nos bancos Rural, BMG e Banco do Brasil para o PT e explicita que Dirceu e o então secretário da legenda, Sílvio Pereira, tinham conhecimento de todas as operações que estavam sendo firmadas. O empresário relatou ao procurador que temia a inadimplência petista caso Delúbio se afastasse do cargo. Preocupado com o alto volume de recursos movimentados - R$ 39 milhões em valores nominais e o equivalente a R$ 93 milhões em valores corrigidos -, ele indagou o ex-tesoureiro sobre quem do partido asseguraria os pagamentos dos empréstimos caso Delúbio se afastasse da função. Conforme relato de Valério no depoimento, o ex-tesoureiro o tranquilizou afirmando que José Dirceu e Sílvio Pereira tinham total conhecimento dos empréstimos contraídos ao PT e que em qualquer eventualidade ambos garantiram os pagamentos. Em depoimento prestado à Corregedoria da Câmara, Dirceu admitiu conhecer Valério, mas negou qualquer envolvimento nos empréstimos ao PT. O contraste das versões pode levar a uma acareação entre eles. Além de dar maiores esclarecimentos sobre as operações envolvendo suas empresas e o PT, Marcos Valério entregou ainda ao procurador uma lista com nomes de 11 pessoas que tinham autorização dele e das empresas SMPB e DNA Propaganda para fazer saques na agência do Banco Rural, no 9o. andar do Brasília Shopping. Os parlamentares supõem que todos os nomes são de assessores de deputados, mas estão terminando a checagem. Até o fechamento desta edição, pelo menos um nome já era conhecido: o de Anita Leocádia, que trabalha no gabinete do líder do PT na Câmara, Paulo Rocha (PA). Valério também citou ao procurador o nome de dois políticos para os quais destinou recursos a campanhas eleitorais: os deputados Roberto Jefferson (PTB-RJ) e Carlos Rodrigues (PL-RJ), conhecido como Bispo Rodrigues. Jefferson já tinha admitido que o PTB recebeu de Valério R$ 4 milhões, num acordo com o PT que envolveria uma doação global de R$ 20 milhões. O Valor fez contato com o gabinete de Rodrigues na noite de ontem, mas não conseguiu falar com o parlamentar. O líder do PT disse ao Valor que não tem conhecimento da relação de sua assessora com Valério. Ele disse ter conhecimento pela assessora Anita Leocádia que ela teria freqüentado o prédio do Brasília Shopping uma única vez em 2005 para ir a uma clínica médica. "Tem muita fofoca e muita disputa política em toda essa história", afirmou o petista.