Título: Brasil vai da lanterna ao topo
Autor: Gonçalves, Marcone
Fonte: Correio Braziliense, 16/04/2010, Economia, p. 11

Bancos projetam crescimento de 7% para o país, índice maior que o da Rússia e próximo ao da Índia

O Brasil poderá deixar a lanterninha do crescimento econômico entre os países emergentes no fim deste ano e, de quebra, registrar o melhor desempenho desde 1986. Analistas de mercado já preveem um aumento de 7% no Produto Interno Bruto, a soma de todos os bens produzidos em um ano. Se confirmado, o aumento será uma vitória política do governo Lula, que deixará ao sucessor um país em crescimento e com inflação sob controle, um legado raro na história brasileira. Os 7% superam os índices previstos pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) para o México (4%), a África do Sul (1,9%) e a Rússia (3,6%), mas ficam abaixo dos projetados para a Índia (7,7%) e a China (10%).

O JP Morgan foi o primeiro banco a cravar previsão de crescimento de 7%, índice só superado pelos 7,6% de 1986, ano em que Brasil inaugurou, com o Plano Cruzado, uma série de pacotes econômicos para tentar vencer a inflação. Mas o que se viu foi congelamento de preços, desabastecimento, início do processo de hiperinflação e a vitória avassaladora, nas eleições estaduais, do PMDB ¿ partido que cederá o vice da chapa liderada pela petista Dilma Rousseff.

Segundo Fábio Akira, economista-chefe do JP Morgan, nem mesmo a perspectiva de alta da taxa básica de juros (Selic) a partir deste mês inibiu a revisão das estimativas para o PIB deste ano ¿Os indicadores de produção industrial e as vendas do varejo apontam para esse crescimento. Também o mercado de trabalho tem se mostrado robusto e a confiança do empresariado e dos consumidores se mantém firme¿, afirmou.

Desequilíbrios Para o estrategista de investimentos do Private Santander, Odair Abate, a perspectiva de aumento de 7% é factível e significa que o Brasil voltou ao mesmo patamar de antes do estouro da bolha imobiliária americana, no fim de 2008, que contraiu a economia mundial. ¿Antes da crise, o Brasil vinha registrando taxas anualizadas de expansão de 6,4%¿, disse.

Embora possa se tornar um ativo eleitoral para o governo, a estimativa de crescimento de 7% foi recebida com ressalva pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega. Para ele, projeções como essa ¿beneficiam quem torce por uma Selic mais alta¿. A notícia, aparentemente boa, tornou-se, na visão do ministro, um argumento a mais em favor da elevação dos juros, cuja decisão será liderada por seu adversário, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. ¿Essa projeção de 7% me parece exagerada¿, disse, ressaltando que o desempenho da economia no primeiro trimestre está inflado pela redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) de móveis, automóveis e eletrodomésticos.

Para vários analistas, o crescimento elevado pode ocorrer sem causar grandes desequilíbrios, porque as empresas estão tocando importantes projetos de investimento, que vão garantir o abastecimento do consumo. Mas há quem veja com cautela as perspectivas de crescimento acima de 5% nos próximos anos sem transtornos. A barreira para o crescimento está justamente no nível de investimento da economia, incapaz de sustentar um ritmo elevado de expansão do PIB.

¿Na China, o investimento atinge 45% do PIB, aqui não chega a 20%. Já experimentamos os famosos voos de galinha, porque sempre batemos na parede da inflação¿, assinalou Abate. ¿Mas, ao contrário de anos anteriores, estamos vendo, agora, muitas intenções de investimento.¿

Mais conservadora, a economista-chefe do ING, Zeina Latif, projeta crescimento entre 5,6% e 6,5% em 2010. ¿Avanço de 7% ou acima disso não é uma boa notícia, pois os gargalos já começam a aparecer¿, afirmou. Ela fez outro alerta: o excessivo otimismo pode contaminar as disputas eleitorais e, pior, a política econômica. Zeina lembrou que todos os programas de incentivos foram postergados no fim do ano passado, quando já estava claro que a economia não precisava manter os estímulos.

Protesto do Greenpeace Fantasiados de turbinas eólicas, barris de petróleo, árvores, painéis solares e chaminés, ativistas do Greenpeace foram detidos por policiais militares do Distrito Federal após protesto em frente ao Palácio do Itamaraty. Na ocasião, o presidente Lula recebia chefes de Estado de China, Índia e África do Sul, durante o encontro do Ibas. Mesmo com a avenida fechada para o trânsito de veículos e toda cercada por PMs, seis ¿integrantes verdes¿ driblaram a segurança oficial e se aproximaram do palácio. Segundo a assessoria de imprensa do Greenpeace, o objetivo da ação era pedir uma atuação mais decisiva desses países na tentativa de convencer os Estados Unidos e a Europa a rever suas metas de redução na emissão de gases estufa.

Essa projeção de 7% me parece exagerada¿

Guido Mantega, ministro da Fazenda

Zeina Latif, economista-chefe do Banco ING

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PIB da China avança 11,9%

Impulsionada por uma combinação de investimentos massivos, exportações elevadas, crédito farto e a incorporação de milhões de pessoas ao mercado, a economia chinesa se mantém em um ritmo de crescimento vigoroso. No primeiro trimestre deste ano não foi diferente: o governo anunciou uma expansão de 11,9% no Produto Interno Bruto (PIB(1)) em relação a igual período do ano passado. Em 2009, esse país cresceu 6,1% no primeiro trimestre e 8,7% no ano. Os especialistas previam um PIB de 11,7% de janeiro a março.

A China também divulgou o índice de preços ao consumidor, com aumento de 2,4% em março ¿ queda em relação a fevereiro, cujo crescimento foi de 2,7%. Os analistas projetavam expansão de 2,6%, o que elevava a preocupação com um aquecimento exagerado da economia. Para frear o consumo, o governo adotou medidas para restringir o crédito às pessoas e às empresas.

Para Zeina Latif , economista-chefe do ING, esses indicadores econômicos trazem mais tranquilidade. ¿As autoridades chinesas vão continuar equilibrando os pratinhos¿, assinalou. ¿Não veremos mudanças nas políticas de juros e câmbio por enquanto¿. (MG)

1 - Produção O PIB é o principal indicador da atividade econômica de um país, estado ou município. Ele apresenta o valor da produção de uma região em um determinado período, sintetizando o resultado final da atividade econômica em dinheiro, sem duplicações, incluindo todos os produtores da área geográfica avaliada, independentemente de suas nacionalidades. A soma dos valores é feita com base nos preços finais de mercado.