Título: Diretor-financeiro substitui Dutra na Petrobras
Autor: Taciana Collet e Cláudia Schüffner
Fonte: Valor Econômico, 19/07/2005, Política, p. A6

O economista José Sérgio Gabrielli de Azevedo, atual diretor financeiro e de Relações com Investidores da Petrobras, será o novo presidente da empresa, no lugar de José Eduardo Dutra, que deixa o cargo para disputar as eleições de 2006. A posse ainda não está marcada, deve ocorrer ainda esta semana. O anúncio foi feito ontem pelo porta-voz adjunto da Presidência, Rodrigo Baena, e é mais uma etapa das mudanças que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vem fazendo no governo desde o agravamento da crise política com as denúncias de corrupção contra o governo e o PT. O presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), esteve ontem com Lula e indicou o nome do secretário-executivo do ministério do Desenvolvimento, Márcio Fortes, para integrar o ministério. Severino Cavalcanti disse a Lula que o partido gostaria de Ter o ministério das Cidades, mas pode acabar ficando com o ministério da Previdência, vago com a saída do senador Romero Jucá (PMDB-RR). O presidente da Câmara indicou Márcio Fortes por ele ser ligado ao ex-ministro da Agricultura Pratini de Moraes, que é do PP. Fortes foi secretário-executivo de Pratini no governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Severino e Lula ficaram de Ter uma nova conversa hoje às 10h. "O ministério da Previdência foi oferecido ao partido, mas o presidente Severino colocou para o presidente Lula que a pasta não seria um ministério que pudesse ser bom para o partido, e sugeriu Márcio Fortes para o ministério das Cidades", afirmou o líder do PP na Câmara, José Janene. O problema é que o ministro das Cidades, Olívio Dutra, já anunciou que não quer deixar o cargo para se candidatar. Hoje, antes de viajar para São Paulo, Lula dá posse ao novo ministro de Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende, e a Jaques Wagner como ministro-chefe do Gabinete de Coordenação Política e Articulação Institucional. Na Petrobras, assume, interinamente, a diretoria financeira, de onde sai Gabrielli, Almir Barbassa, atual gerente de finanças corporativas. Gabrielli passou boa parte da manhã de ontem no Palácio do Planalto e encontrou-se com o presidente Lula. Ele assume o cargo com o apoio de José Eduardo Dutra, da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, ex-ministra de Minas e Energia, com quem também esteve reunido, e do ministro das Relações Institucionais, Jaques Wagner, seu padrinho original para a diretoria que ocupava. O atual presidente da BR, Rodolfo Landim, era até o preferido da ministra Dilma e dos líderes do PT Aloizio Mercadante e Delcídio Amaral, mas a ministra considerou que seria complicado, no momento, abrir um flanco na direção da BR. Antes mesmo do anúncio oficial, José Eduardo Dutra já havia comunicado a diretores e gerentes da estatal a decisão de deixar a empresa e o nome do substituto. Filiado ao PT, o novo presidente, que é formado em economia pela Universidade Federal da Bahia, ocupava a diretoria financeira da empresa desde fevereiro de 2003 por indicação do próprio Lula. Em 1990, chegou a disputar, sem sucesso, o governo da Bahia pelo PT. Com mestrado em incentivos fiscais e desenvolvimento regional, recebeu o título de PhD em Economia pela Boston University em 1987, com dissertação sobre o Financiamento das Estatais no período de 1975 a 1979. Durante sua gestão na empresa, recebeu diversos prêmios como o de melhor executivo de finanças da América Latina do International Stevie Business Awards 2005. Foi diretor da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal da Bahia. Com a confirmação da nomeação de José Sergio Gabrielli para a presidência da Petrobras, o mercado financeiro aguarda agora nomeação do seu substituto na diretoria financeira. Ontem, analistas de grandes bancos ainda não sabiam que novas mudanças deveriam esperar na companhia, e alguns torciam para que a escolha do novo financeiro seja técnica. Com a nomeação de Gabrielli, paira uma dúvida sobre a permanência dos demais diretores da companhia. O Valor apurou que até o momento a intenção do governo é nomear para a diretoria financeira alguém do atual "staff" de Gabrielli. Se isso se confirmar, o novo presidente da Petrobras pode elevar um dos seus três gerentes executivos: Almir Barbassa (finanças corporativas), que assumiu interinamente a diretoria; Raul Campos (relações com investidores); e Marcos Menezes (contabilidade). Uma fonte do mercado questionou até que ponto a falta de articulação política de Gabrielli, que era professor, pode enfraquecer a empresa, abrindo mais espaço para reivindicações políticas da base aliada do governo. Já o analista Pedro Batista, do Banco Pactual, elogiou a escolha de Gabrielli para o cargo. Para ele, com a nomeação de Gabrielli o governo "passa um tom de continuidade" na estatal. A preocupação de Pedro Batista, assim como de outros analistas ouvidos pelo Valor, é de que um nome político seja nomeado para a diretoria financeira da estatal.