Título: Thyssen e Vale querem o BNDES na CSA
Autor: Francisco Góes e Vera Saavedra Durão
Fonte: Valor Econômico, 19/07/2005, Empresas & Tecnologia, p. B7

Siderurgia Sócios privados tentam atrair banco estatal para nova usina de US$ 2,2 bilhões a ser construída no Rio

A alemã Thyssen Krupp Stahl e a Companhia Vale do Rio Doce vão aprovar, em agosto, o projeto da Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), investimento total de US$ 2,2 bilhões a ser feito em parceria entre as duas gigantes e que poderá ter como sócio o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A nova usina, joint venture criada este ano entre as duas empresas, será construída no distrito de Santa Cruz, município do Rio, e terá capacidade de produzir 4,4 milhões de toneladas de placas de aço por ano, começando a operar a partir de 2008. Este mês, executivos da Thyssen vieram da Alemanha para uma reunião, no Rio, com o presidente do banco, Guido Mantega, e com o vice, Demian Fioca, para discutir a participação da instituição de fomento no negócio. "Eles (os executivos da Thyssen) demonstraram interesse de que o BNDES estivesse, de alguma maneira, associado ao projeto da CSA aqui no Rio", disse Fioca, contando que o assunto está em discussão no banco. E não descartou a possibilidade de uma participação acionária minoritária do banco na CSA. Aristides Corbellini, futuro presidente da CSA e que coordena o projeto pela Thyssen, informou que no dia 12 de agosto o conselho da Thyssen Krupp irá aprovar o empreendimento. Seis dias depois, em 18 de agosto, o mesmo deve ocorrer no conselho da Vale. As empresas divulgarão comunicando conjunto ao mercado no dia 19, informando da decisão definitiva de desenvolver o projeto da CSA. Até agora Thyssen e Vale vinham trabalhando com base em um protocolo de intenções entre as partes assinado no dia 12 de janeiro. Corbellini defendeu o apóio do BNDES ao projeto. "Todos os projetos feitos no Brasil têm de ter apoio do BNDES. O banco vai ter de analisar nossa proposta dentro dos critérios dele e estamos abertos a ter a colaboração do banco", asseverou. A nova usina, ressaltou o futuro presidente da CSA, será construída integralmente com capital próprio dos acionistas. "Nosso projeto é 100% 'equity finance', nós vamos financiar com 'equity' e o BNDES certamente estará envolvido nisso", disse. Ele adiantou que o estudo de viabilidade do projeto, iniciado no fim do ano passado, já foi concluído. O BNDES deixou claro aos executivos alemães da Thyssen que tem disposição de participar da CSA. Segundo Fioca, o banco identifica o momento atual como "peculiarmente" positivo para o Brasil galgar alguns novos degraus em investimentos siderúrgicos. "O investimento em aumento da capacidade de produção das usinas de aço no Brasil tem sido moderado nos últimos 10 anos. Mas agora há perspectiva de se dar alguns saltos que podem mudar o perfil do parque siderúrgico brasileiro", observou. Com base em números do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS), Fioca identifica potencial para que a produção passe dos atuais 34 milhões de toneladas/ano para 60 milhões de toneladas de aço/ano em cinco anos. "Vemos essa perspectiva (de dobrar a produção) com entusiasmo e estamos dispostos a apoiar todos os projetos que efetivamente contribuírem para isso porque tal oportunidade não aparece sempre", ressaltou o vice do BNDES. Fioca destacou que o banco vê ganhos potenciais em associar um investimento em produção de placas no Brasil, como o da Thyssen Krupp, a um sistema de acabamento do produto e de distribuição comercial no exterior. Ao ponderar sobre a visão do BNDES, argumentou que essa estratégia pode ser perseguida tanto por uma empresa brasileira que tenha ativos para processamento das placas no exterior (caso da CSN), como por uma companhia estrangeira que decide produzir semi-acabados no Brasil para alimentar suas linhas de acabamento em outros países. "O projeto da Thyssen atende a esta questão relevante", realçou Fioca. Na análise técnica do BNDES, assinalou, a verticalização da produção de aço é importante desde que o investidor conte com a fase de acabamento, independente desse processo final ocorrer no Brasil ou no exterior. E independente de o investimento ser de capital nacional ou estrangeiro. O banco, explicou seu vice-presidente, leva em conta a problemática de o Brasil enfrentar barreiras comerciais para exportar para os Estados Unidos, por exemplo, produtos acabados. "Enquanto essa realidade existir, as empresas siderúrgicas, para crescer e serem competidores mundiais, terão de ter escala. E se a alternativa para ter escala e exportar, é ter acabamento lá fora, a gente aprova isso". Corbellini disse que "de jeito nenhum vamos verticalizar a produção na CSA". Ele informou que o projeto prevê produzir placas para alimentar suas unidades de produção de laminados nos Estados Unidos e na Alemanha.