Título: Malki pede intervenção
Autor: Vaz, Viviane
Fonte: Correio Braziliense, 16/04/2010, Mundo, p. 18

Chanceler palestino espera que bloco formado por Brasil, Índia e África do Sul pressione Israel para desbloquear negociações

Recebido em Brasília pelo colega brasileiro, Celso Amorim, e pelos ministros do Comércio da Índia, Anand Sharm, e da Ciência e Tecnologia da África do Sul, Naled Pandor, o chanceler palestino, Riad Malki, pediu a ¿intervenção¿ do bloco formado pelos três países se continuar o ¿impasse¿ nas conversas de paz gerado pelas recentes ações israelenses. Malki denunciou aos representantes do Fórum Ibas (Índia, Brasil e África do Sul) a aplicação de uma ordem militar de Israel que permite a deportação de palestinos da Cisjordânia e pediu que o Brasil lidere outros países que querem ajudar no processo de paz.

¿Nós sabemos o quanto o Brasil está comprometido, e vimos isso durante a visita do presidente Lula à Palestina, no mês passado. Estamos animados em contar com a ajuda do Brasil, liderando não só o Ibas, mas também outros países que gostariam de ajudar no processo de paz¿, disse o chanceler palestino, após a reunião de quase uma hora. Segundo Malki, a decisão de Israel de deportar palestinos que não obtiverem uma nova permissão do Exército israelense e realocá-los como colonos mostra que os israelenses ¿não estão interessados¿ na paz. ¿E isso prova à comunidade internacional e aos líderes do Ibas que eles têm que intervir, se esperam que a paz prevaleça na nossa região¿, afirmou.

Ideias novas Amorim destacou que a ideia de o bloco ajudar no diálogo na região surgiu durante a visita do presidente da Autoridade Palestina (AP) ao Brasil, em novembro de 2009, mas se tornou ¿ainda mais urgente devido aos percalços¿ do processo de paz na região. ¿Não tem havido evolução positiva. Nós temos boas relações com Israel e, por isso, acreditamos que podemos contribuir com ideias novas para o processo de paz. Podemos, inclusive, ajudar o próprio Quarteto (formado por Estados Unidos, União Europeia, Rússia e Nações Unidas) a sair do círculo de giz na qual essa situação está fechada¿, sugeriu.

Após o encontro no Itamaraty, os ministros do Ibas lançaram um comunicado conjunto, em que pedem a ¿retomada urgente das negociações¿ que levem a uma solução de dois Estados, ¿com a criação de um Estado palestino soberano, democrático, independente, unido e viável, convivendo pacificamente com Israel, dentro das fronteiras pré-1967¿. Os três países defendem ainda que esse estado tenha Jerusalém Oriental como sua capital. ¿Uma participação maior da comunidade internacional neste empreendimento, incluindo os países em desenvolvimento com boas relações com todas as partes, pode trazer uma nova perspectiva para o processo de paz¿, defende o bloco.

Exortação Em relação a Israel, os membros do Ibas adotaram um tom firme, ¿exortando¿ o governo israelense a ¿congelar todas as atividades de colonização nos territórios palestinos ocupados, inclusive o `crescimento vegetativo (das colônias)¿¿. Eles recomendam ainda que o país reverta a decisão de ¿avançar com novas unidades habitacionais em Jerusalém Oriental¿. Brasil, Índia e África do Sul se dizem ¿profundamente preocupados¿ com a nova ordem militar israelense, que permite a deportação de palestinos, e apelam para que o país alivie as restrições sobre a circulação de pessoas e bens na Faixa da Gaza e na Cisjordânia.

Os ministros destacaram que os conflitos no Oriente Médio ¿não podem ser resolvidos por uso da força¿. ¿Os conflitos continuam a ser essencialmente de natureza política. Os países do Ibas, portanto, pedem a todos os atores para não desenvolver políticas e ações que causem danos e sofrimento, especialmente para os civis¿, diz o texto final. Os três países declararam ainda apoio aos esforços para reativar as relações entre Israel, Síria e Líbano.

Nós temos boas relações com Israel e, por isso, acreditamos que podemos contribuir com ideias novas para o processo de paz. Podemos, inclusive, ajudar o próprio Quarteto (EUA, União Europeia, Rússia e Nações Unidas) a sair do círculo de giz na qual essa situação está fechada¿

Celso Amorim, ministro das Relações Exteriores

Ex-premiê sob suspeita

A Justiça israelense revelou ontem que o ex-premiê Ehud Olmert é o principal suspeito de um enorme escândalo de corrupção imobiliária em Jerusalém. O caso já tinha ganhado os jornais de Israel há alguns meses, mas, até então, o nome do envolvido era mantido sob sigilo. Segundo a imprensa israelense, Olmert é acusado de ter recebido propina de 3,5 milhões de shekels (700 mil euros) quando era prefeito de Jerusalém, entre 1993 e 2003. O político deve ser interrogado em breve pela polícia.

A identidade do suspeito só pôde ser revelada depois que um tribunal de Jerusalém levantou a censura que pesava sobre o caso. Antes, ele era descrito como ¿uma alta personalidade pública¿. A polícia rejeitou, por enquanto, comentar o caso. Há dois dias, um ex-vereador de Jerusalém, Uri Lupolianski, que tinha sucedido Olmert no comando do município, foi preso pela polícia por seu suposto envolvimento no caso de pagamento de propinas na construção do gigantesco complexo imobiliário batizado de Holyland. Uri Messer, ex-sócio de Olmert, e funcionários da prefeitura de Jerusalém, além de diversos empresários, também foram detidos na semana passada.

Construído em um dos lugares mais populares de Jerusalém, o Holyland incluiria inicialmente somente três hotéis, mas tornou-se um espetacular complexo imobiliário. O projeto, impopular e denunciado pela imprensa como um ¿monstro estético¿, beneficiou-se de muitas revogações na lei de ocupação do solo, o que tornou possível a construção de residências além dos limites legais normais. Olmert, 64 anos, enfrenta três escândalos de corrupção e vem comparecendo aos tribunais desde 21 de setembro de 2009.

Volta antecipada a Pequim

O terremoto que deixou 617 mortos na província chinesa de Quinghai, na última quarta-feira, demandou uma força-tarefa também em Brasília para permitir que o presidente Hu Jintao, presente na capital para a II Cúpula do BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), voltasse para seu país o quanto antes. O líder chinês foi recebido na manhã de ontem no Itamaraty pelo colega brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, que fez questão de, mais uma vez, prestar solidariedade(1) a Pequim pela tragédia. Hu também aproveitou as declarações após a reunião bilateral para agradecer as demonstrações de pesar de toda a comunidade internacional, em especial do governo brasileiro, que teve de refazer todo o cronograma dos encontros para que ele retornasse à China na noite de ontem.

¿O terremoto foi uma grande calamidade, que causou grandes perdas. O governo está organizando ações de emergência, e, por isso, decidi regressar imediatamente. Agradeço ao governo brasileiro, que teve de fazer rearranjos para que isso acontecesse¿, afirmou Jintao. Para o Planalto, quem tomou uma decisão ¿muito generosa¿ foi o presidente chinês, que quis vir a Brasília mesmo após a tragédia. ¿Quero estender ao meu amigo Hu Jintao e ao povo chinês, em meu nome e de todo o Brasil, a solidariedade neste trágico momento de perda e dor causadas pelo terremoto de ontem (quarta-feira)¿, disse Lula. A visita que Hu faria à Venezuela no sábado foi cancelada.

Ontem, a TV estatal atualizou o número de vítimas: 617 mortos e mais de 9 mil feridos, dos quais 970 em estado grave. O relatório anterior contabilizava 589 óbitos. Segundo as autoridades, há 313 desaparecidos. O exemplo das mais de 2 mil pessoas resgatadas com vida dos escombros, contudo, serve de alento para os que ainda aguardam notícias dos familiares. Ontem, as equipes de socorro ¿ que reúnem mais de 5 mil homens ¿ prosseguiam em busca de pessoas presas sob os restos de edifícios desabados, trabalho dificultado pelo mau tempo e pelas baixas temperaturas.

Dificuldades Milhares de desabrigados passaram a noite ao relento na região de Yushu, onde a temperatura à noite chega próximo a zero grau nesta época. ¿Há gente ferida por todo lado. O maior problema é a falta de barracas, de equipamentos médicos, de remédios e médicos¿, declarou Zhuo Huaxia, porta-voz do governo de Yushu. Em algumas localidades, como Jiegu, falta até mesmo o mais básico. ¿A água está poluída, precisamos de água e comida¿, afirmou o morador Pu Wu, que perdeu sua casa, à agência France Presse.

Outra preocupação é com as crianças e jovens, já que pelo menos 11 escolas desabaram na região. Segundo Wang Yubo, da secretaria provincial de educação, 66 estudantes morreram. A porta-voz do Ministério da Educação chinês, Xu Mei, citada pela agência Nova China, desmentiu, contudo, que existam quase 200 alunos soterrados sob escombros de uma escola, como havia anunciado o jornal Beijing Times. (IF)

Corrente de ajuda na internet Milhares de usuários de internet na China se uniram numa corrente de solidariedade às vítimas do terremoto que abalou o noroeste do país. Os internautas postaram flores virtuais e impulsionaram doações online para ajudar os moradores da região atingida pela catástrofe. O site chinês Tianya lançou uma campanha de doação nacional logo após o tremor, que deixou ao menos 760 mortos e 100 mil desabrigados na província de Quinghai. O Tianya Love Express apelou para doações de garrafas de água, tendas, roupas e alimentos, e recebeu mais de 600 respostas em um dia. Muitos se ofereceram como voluntários nas operações de resgate. ¿Sou estudante de uma escola de medicina em Chengdu (capital da província de Sichuan) e quero ajudar no trabalho médico de Quinghai¿, dizia uma mensagem divulgada pela agência oficial Xinhua.

O governo está organizando ações de emergência, e, por isso, decidi regressar imediatamente. Agradeço ao governo brasileiro, que teve de fazer rearranjos para que isso acontecesse¿

Hu Jintao, presidente da China