Título: PT pressiona e Lula adia saída de Olívio das Cidades
Autor: Taciana Collet
Fonte: Valor Econômico, 20/07/2005, Política, p. A8

Crise Murilo Portugal é sondado para assumir a Previdência

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva adiou para amanhã o anúncio sobre a participação do PP no governo. A indicação do secretário-executivo do ministério do Desenvolvimento, Márcio Fortes, para o ministério das Cidades - dada como certa na manhã de ontem - não foi confirmada pelo Palácio do Planalto com o argumento de que as negociações não foram concluídas. O ministro das Cidades, Olívio Dutra, chegou a confirmar sua demissão a funcionários do ministério, mas, logo depois, foi orientado pela ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, a não oficializar sua saída do governo, pelo menos até quinta-feira, porque Lula não teria batido o martelo. Olívio Dutra foi comunicado da sua substituição pelo próprio presidente, na manhã de ontem. Em seguida, Lula também chamou Márcio Fortes ao Palácio do Planalto para fazer o convite. A notícia provocou forte reação da esquerda do PT e dos movimentos populares ligados à área de habitação e saneamento, que reclamaram. Na segunda-feira, Lula garantiu para Olívio Dutra que o ministério das Cidades não seria atingido na reforma ministerial, mas a pressão do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), fez o presidente mudar os planos. Inicialmente, Lula ofereceu o ministério da Previdência ao PP, que recusou, insistindo no ministério das Cidades, que, este ano, vai movimentar um orçamento de R$ 16 bilhões, com investimentos, na sua maioria, em habitação popular e saneamento. O secretário-executivo da Fazenda, Murilo Portugal, também foi sondado para a Previdência. Ontem Lula voltou a falar com Olívio Dutra que precisava do cargo para compor com o Congresso. A assessoria do Ministério das Cidades chegou a divulgar que Olívio Dutra retornaria à militância do PT no Rio Grande do Sul. Desde que começou a reforma ministerial, ele vem dizendo que não é candidato a nada nas eleições de 2006, sinalizando que queria ficar no cargo. Na noite de ontem, Olívio Dutra não sabia mais sobre seu destino e suspendeu os preparativos para a transmissão de cargo. Amanhã é esperada uma posse conjunta dos novos ministros - além de Márcio Fortes, tomariam posse o novo ministro da Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende, e o novo ministro da Previdência, nome que ainda não foi escolhido para substituir o senador Romero Jucá, encerrando, assim, a reforma ministerial iniciada depois do agravamento da crise política com as denúncias de corrupção contra o governo e o PT. O novo ministro da Ciência e Tecnologia, Sérgio Resende, presidente da Finep, havia convidado a todos para sua posse, ontem, pela manhã, seguida de uma entrevista coletiva e transmissão do cargo. Todo o programa foi cancelado, sem explicações. O líder do PP na Câmara, José Janene (PR), disse ontem que Márcio Fortes não é uma indicação do partido nem da bancada da Câmara, mas uma sugestão pessoal de Severino Cavalcanti. "Como Márcio Fortes é uma figura querida, não houve nenhuma restrição na bancada", afirmou Janene. "A indicação já ficou acertada com Severino, mas só será oficializada na volta da viagem do presidente." Lula viajou ontem à tarde para São Paulo e está hoje em Recife. Ele só volta a Brasília no início da noite. Sem filiação partidária, Márcio Fortes é ligado ao ex-ministro da Agricultura Pratini de Moraes, que é do PP e de quem Fortes já foi secretário-executivo no governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Movimentos sociais como o Fórum Nacional da Reforma Urbana reclamaram que Fortes não tem nenhum expressão na área de políticas urbanas. "Vimos a mudança com muita tristeza e preocupação. A substituição ameaça a continuidade da atual política", disse Orlando Júnior, secretário do fórum. Antes de viajar para São Paulo, o presidente assinou a posse de Jaques Wagner no recém-criado Gabinete de Coordenação Política e Articulação Institucional numa cerimônia simples a qual os repórteres não tiveram acesso. Aldo Rebelo retorna à Câmara. Ao discursar, o presidente ressaltou que a volta para o Congresso tanto de Rebelo como de Eduardo Campos (Ciência e Tecnologia) e de Eunício Oliveira (ex-ministro das Comunicações) era fundamental para rearticular a base aliada. "Para que o Congresso funcione normalmente independentemente das CPIs e trabalhe para não passar para a sociedade a idéia de que as coisas não estão funcionando."