Título: Ministro orientou advogado de Valério
Autor: Raymundo Costa
Fonte: Valor Econômico, 20/07/2005, Política, p. A8

O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, admitiu ontem que orientou o advogado de Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT, a retificar seu depoimento à Polícia Federal diretamente ao procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, mas negou que esteja no comando de uma estratégia para dividir com outros partidos as denúncias hoje concentradas no PT. Por meio de sua assessoria, Thomaz Bastos também negou que, além de orientar o advogado a fazer a retificação no Ministério Público Federal, tenha feito alguma orientação sobre o conteúdo do depoimento de Delúbio Soares, na sexta-feira passada. O ministro disse que nunca foi filiado ao PT e, como chefe da Polícia Federal, tem procurado atuar com "imparcialidade". Segundo o Ministério da Justiça, Arnaldo Malheiros, advogado de Delúbio e amigo há mais de 30 anos de Márcio Thomaz Bastos, procurou o ministro dizendo que o ex-tesoureiro do PT desejava retificar o depoimento que prestara anteriormente à PF. Por considerar que o esclarecimento dos fatos é "do interesse de todos", Thomaz Bastos teria dito a Malheiros que ele poderia procurar tanto a PF quanto a Procuradoria Geral da República. O próprio Thomaz Bastos, no entanto, destacou na conversa que, se era interesse do advogado acelerar os procedimentos, o ideal seria que o depoimento fosse prestado diretamente ao procurador-geral Antonio Fernandes de Souza. Com isso, avançaria um passo - o curso natural dos depoimentos à PF é o procurador. Como Malheiros concordou, Thomaz Bastos fez a ponte do advogado com Antônio Fernandes. Segundo o Ministério da Justiça, em nenhum momento Thomaz Bastos emitiu algum juízo sobre o teor da retificação. No depoimento, prestado na sexta-feira, Delúbio Soares apresentou uma nova versão para os recursos recebidos do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, que, segundo o ex-tesoureiro, teriam sido destinados para o pagamento de campanhas eleitorais do PT, sem entrar na contabilidade oficial do partido, o caixa 2. Na véspera, também em depoimento ao procurador, Marcos Valério dera a mesma explicação sobre os recursos. Ainda na sexta-feira, em Paris, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu uma entrevista praticamente nos mesmos termos das novas explicações de Marcos Valério e Delúbio Soares. A coincidência levou a oposição a suspeitar que Thomaz Bastos, que é advogado criminalista, estivesse por trás de uma estratégia para circunscrever o escândalo de corrupção a um crime eleitoral. É fato que Delúbio e Marcos Valério tiveram contatos duas vezes, antes dos depoimentos retificadores, na semana passada, em Belo Horizonte. Na segunda-feira, 11, conversaram pessoalmente. Na sexta-feira, depois do depoimento de Valério, mas antes do de Delúbio ao procurador, o contato se deu por meio do advogado do empresário. Thomaz Bastos nega enfaticamente que tenha participado que alguma combinação. O ministro escreveu uma carta ao jornal "Folha de S. Paulo" na qual reclama inclusive de uma foto, publicada na edição de ontem do diário, na qual aparece abraçado ao lado de dirigentes do PT.