Título: Sob ameaça de sequestro, Valério pede proteção policial
Autor: Ivana Moreira
Fonte: Valor Econômico, 20/07/2005, Especial, p. A12
O empresário Marcos Valério de Souza pediu ontem proteção à Polícia Federal para ele e sua família. Segundo nota divulgada por sua assessoria de imprensa, o empresário está preocupado com o risco de sequestro depois que o jornal "Extra", do Rio de Janeiro, publicou matéria sobre um suposto plano para sequestrá-lo descoberto numa escuta telefônica. Enquanto o empresário mineiro buscava ajuda para proteger sua família, o Ministério Público fazia novas buscas para apreender documentos relacionados às suas empresas. A Polícia Civil de Minas Gerais apreendeu ontem pela manhã computadores e caixas de documentos na casa de Marco Aurélio Prata, contador de Marcos Valério de Souza. Segundo o Ministério Público Estadual, que pediu a busca e apreensão na casa de Prata, há indícios do funcionamento de uma contabilidade paralela e irregular à serviço do empresário mineiro na casa do contador. Na semana passada, a polícia já havia encontrado notas fiscais da DNA Propaganda, de Marcos Valério, sendo queimadas na residência de um irmão do contador Marco Aurélio Prata. A operação da Polícia Civil apreendeu documentos na casa do contador no condomínio de luxo Retiro do Chalé, na região metropolitana de Belo Horizonte. No mesmo condomínio mora o empresário acusado de ser o operador do mensalão. Os policiais também fizeram apreensões na Casa Prata, um depósito de material de construção que fica na mesma região e pertence ao contador. Todo o material apreendido está lacrado e será periciado pelo Instituto de Criminalística e pelo Ministério Públcio. Foram recolhidos pelos policias 12 computadores, seis em casa e seis no depósito, pasta contendo documentos como um relatório de duplicadas emitidas pela SMP&B (outra agência de Marcos Valério), agenda de telefones com anotações e recibos anexados e um cofre lacrado. O contador Marco Aurélio Prata disse que não tinha a chave nem sabia o segredo do cofre. Segundo o promotor de Justiça de Defesa do Patrimônio Público, Leonardo Barbabela, conversas registradas em escuta telefônica indicaram que poderia haver documentos contábeis das empresas de Marcos Valério na casa de seu contador. "Não tem fundamento", comentou Marco Aurélio Prata. Segundo ele, os seis computadores encontrados em sua casa são recém-comprados e seriam levados para o seu escritório. Ontem, em Belo Horizonte, os bancos mineiros Rural e BMG divulgaram nota contestando as informações divulgadas em reportagem do jornal "O Globo" sobre terem cobrado taxas entre 1% e 1,2% nos empréstimos para as empresas de Marcos Valério. "É completamente inverídica e destituída de qualquer fundamento, além de geradora de malefícios irreparáveis para a imagem e as operações do banco, a fantasiosa e delirante informação publicada", diz o texto da nota do BMG. "Somente o desconhecimento absoluto das práticas de mercado, ausência de apuração jornalística ou interesses inconfessáveis podem justificar tamanho equívoco", diz a nota do banco, informando que os repórteres excluíram a informação sobre o CDI. As taxas, argumenta o BMG, ficam entre CDI mais 1% e CDI mais 1,2%, o que corresponde a taxas efetivas entre 2,23% e 2,29% ao mês. A nota diz ainda que as informações publicadas pela imprensa sobre os empréstimos são desencontradas e serão esclarecidas na CPI. O Banco Rural também negou que tenha aplicado as taxas entre 1% e 1,2% nos contratos com Marcos Valério e argumentou que as taxas praticadas pelo banco são "absolutamente normais e estão dentro dos parâmetros praticados pelo mercado financeiro." O juiz da 4a Vara Federal em Belo Horizonte, Jorge Macedo da Costa, decidiu ontem transferir para o Supremo Tribunal Federal os autos do inquérito da Polícia Federal que investigava os negócios de Marcos Valério.