Título: Quatro grandes clubes paulistas lideram ranking dos maiores
Autor: Nelson Niero
Fonte: Valor Econômico, 20/07/2005, Empresas & Tecnologia, p. B1

Esportes Corinthians sobe com ajuda de parceria e ocupa posição que era do Flamengo

A parceria com a Media Sports Investment (MSI) pode não ter rendido o prometido dentro de campo, mas o contrato com a empresa do empresário Kia Joorabchian já deu um belo efeito nos números do Corinthians. O time saltou para o primeiro lugar da lista dos maiores clubes brasileiros por faturamento, com a ajuda de R$ 54 milhões (equivalentes a US$ 20 milhões no fim de 2004) da MSI. Contabilizado como "resultado não operacional", o dinheiro fez com que o clube fechasse 2004 com receita recorde de R$ 100,2 milhões, 82% maior que a de 2003, e transformou o que seria um déficit de R$ 40,5 milhões em superávit de R$ 13,6 milhões. O dinheiro veio do contrato para "administração exclusiva do departamento de futebol profissional e amador, licenciamento e outras avenças", assinado com a MSI em novembro de 2004. Com o ganho extra, o Corinthians ficou entre os clubes que registraram superávit em 2004, segundo levantamento feito pela Casual Auditores, de São Paulo. Dos 19 times pesquisados, só 7 tiveram resultado positivo. Os 12 restantes ficaram no vermelho. A lista da Casual foi feita com base nos balanços dos clubes mais representativos do país, com receita acima de R$ 10 milhões. Os times de futebol são obrigados a publicar seus números desde 2002, por conta de uma medida provisória de 2001. Daqueles que entraram na amostra, a maioria faz parte do chamado Clube dos Treze (que são 20), entidade que reúne a elite do futebol nacional. Com o salto do Corinthians, que sem o dinheiro do MSI ficaria na sétima posição do ranking, os quatro grandes paulistas - São Paulo, Palmeiras e Santos são os outros - lideram a lista de maiores receitas em 2004, seguidos por Internacional e Cruzeiro. O Flamengo, líder da primeira safra, caiu para a sétima colocação. A queda não poderia ser mais emblemática da situação delicada dos tradicionais clubes cariocas. Se Flamengo, Fluminense e Botafogo vendessem seus ativos, faltaria a cada um deles mais de R$ 100 milhões para pagar seus passivos. O Vasco escapa por pouco do chamado patrimônio líquido negativo (se liquidasse os ativos, teria uma pequena sobra de R$ 10,8 milhões), mas em compensação registrou o maior prejuízo de 2004 entre os clubes pesquisados, R$ 46,9 milhões. Juntos, os resultados dos quatro grandes do Rio representam mais de 90% do prejuízo total da amostra. A receita somada dos 19 clubes foi de R$ 825,75 milhões em 2004, o equivalente a 2,7% do que foi gerado pela indústria do esporte e 0,047% do Produto Interno Bruto do país no ano passado, de acordo com a Casual. O "país do futebol" continua muito distante da Europa. O faturamento somado dos principais clubes brasileiros é menor, por exemplo, do que receita gerada pelo Real Madrid na temporada 2003/04 - ? 236 milhões, o equivalente a R$ 859 milhões pelo câmbio médio de 2004. O clube espanhol foi o segundo colocado, atrás do Manchester, com ? 259 milhões (R$ 943 milhões), no ranking divulgado pela consultoria Deloitte em fevereiro. A pesquisa da Deloitte não inclui o dinheiro que os clubes ganham com a transferência de jogadores, uma das principais fontes de receita dos clubes brasileiros, junto com cotas de TV e patrocínio - as três somaram 70% do total de recursos em 2004. A bilheteria representou, em média, apenas 7%. O estudo da Casual mostra que, para alguns clubes, a receita de venda de jogadores chegou a 65% representar do total arrecadado. Isso explica as grandes variações nas receitas de Santos - que vendeu o meia Diego, por exemplo -, Palmeiras e Internacional. No balanço do Santos, a conta "repasses federativos" passou de R$ 2 milhões, em 2003, para R$ 31 milhões, em 2004. Já no Internacional, a "negociação de atestados liberatórios" subiu de R$ 4 milhões para R$ 35 milhões. Mesmo o São Paulo, que registrou queda de 12% na receita em 2004, foi ajudado pela venda do atacante Luís Fabiano. O problema é que a base de comparação, a receita de 2003, estava "inflada" com a negociação do meia Kaká. A conta que registra a negociação de atletas no Morumbi caiu de R$ 40 milhões para R$ 23 milhões. Para Carlos Aragaki, sócio da Casual, os clubes precisam diversificar as receitas, buscando aumentar a arrecadação dos jogos e a exploração comercial da marca. "O jogador é exportado cada vez mais cedo", diz Aragaki. "Os clubes não estão colhendo os frutos [do investimento nos atletas], mas sim cortando pela raiz."