Título: Setor encolhe, mas capital estrangeiro está de olho
Autor: Tainã Bispo
Fonte: Valor Econômico, 20/07/2005, Empresas & Tecnologia, p. B4

Livros Editoras brasileiras estão otimistas e prevêem crescer em 2005

O brasileiro lê, em média, 1,8 livro por ano e o mercado editorial, em número de exemplares vendidos, encolheu nos últimos anos. Mesmo assim, as expectativas em relação ao futuro estão longe de ser negativas. O capital estrangeiro está investindo no setor - comprando editoras brasileiras e fazendo parcerias - e as previsões para este ano são de crescimento nos negócios. No início de junho, duas compras agitaram o setor. No dia 13, o grupo espanhol Prisa-Santillana (proprietário do maior jornal da Espanha) comprou 75% da Objetiva. Logo depois, no dia 15, a Editora Ediouro adquiriu 50% da Nova Fronteira. Antes disso, em abril, o grupo brasileiro Record, que possui oito selos editoriais e considerada a maior editora do país na categoria de obras gerais, anunciou a criação de uma joint venture com a americana Harlequim Books. Surgiu a HR, que, desde então, já lançou 40 títulos. Cada livro, com tiragem de 18 mil exemplares, são vendidos em bancas de jornais a preços populares. Nos últimos dias, novos rumores de possíveis negócios voltaram a circular. A Record estaria em conversas com o grupo alemão Bertelsmann. Sérgio Machado, presidente da Record, disse ontem ao Valor não estar informado sobre esse "namoro" do grupo alemão pela maior editora do Brasil. Tanto o Bertelsmann quanto a Random House, maior editora americana que pertence ao grupo alemão, têm citados como possíveis compradores da Record. Ele brinca e diz esperar que um dia esse namoro aconteça de verdade. "Quem não gosta de ser paquerado?", diz. Paulo Rocco, presidente da editora Rocco, informou ontem, por meio de sua assessoria, que, ao contrário do que vem sendo noticiado, não há interesse algum da espanhola Planeta na Rocco. A reportagem do Valor entrou em contato com a Planeta, mas a empresa preferiu não se pronunciar. Além de acompanhar a movimentação do capital estrangeiro, em especial o espanhol, a principal preocupação dos editores brasileiros tem sido descobrir livros que caiam no gosto do público - já que o setor parece viver de "best sellers". Machado diz que o mercado editorial vive de "explosões". Essa é a razão pela qual não há um ranking das maiores editoras do país, já que um best seller pode fazer com que uma editora alcance as primeiras, pelo menos por um ano. O exemplo citado por ele é o livro "Código da Vinci", de Dan Brown. A editora Sextante vendeu mais de 1 milhão de exemplares desse livro em 2004. "Perdas e Ganhos", de Lya Luft, trouxe bons resultados para a Record, que vendeu mais de 500 mil dele em 2004. Luiz Fernando Pedroso, editor da Ediouro, concorda. O "best seller", diz, beneficia o setor e não apenas a editora que o publica. Uma "febre como o Código da Vinci faz com que uma pessoa que nunca comprou um livro vá a livrarias", observa Pedroso. O desafio é fazer com que a população veja o livro como um objeto de desejo, diz Marino Lobello, vice-presidente da Câmara Brasileira do Livro. Segundo Sergio Windholz, diretor administrativo da Companhia das Letras - da qual o Unibanco possui 30% - outro fator estimulante é o aumento do nível educacional do brasileiro. Tanto Windholz quanto Machado, da Record, esperam crescer 5% este ano. A editora Rocco também prevê um ano melhor, ancorada em dois best sellers: o "Zahir", de Paulo Coelho, e o tão esperado Harry Potter, o sexto livro da série da inglesa J.K. Rowling - que só será lançado na versão em português no final do ano. A versão original, em inglês, provocou filas em algumas livrarias, na madrugada de sábado passado. A Ediouro também é otimista e prevê crescimento, com receita estimada em R$ 30 milhões para a divisão de obras gerais em 2005. Esse otimismo, porém, não tem relação com o passado recente. O setor vem encolhendo nos últimos anos, segundo a pesquisa "A Economia do Livro: A crise atual e uma proposta de Política", feita pelos professores Fábio Sá e George Kornis, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O faturamento do mercado de livros gerais, didáticos e técnico científicos caiu 53% em 2003, em relação a 1995, aplicando-se o IGP-DI como deflator. Os números da Câmara Brasileira dos Livros (os mesmos utilizados pelos professores) mostram queda de 8% em 2003, com 50 milhões de livros, em relação a 2002. Windholz, da Companhia das Letras, confirma que o mercado está menor, mas discorda da porcentagem demonstrada pelos professores: o mercado não teria encolhido tanto. O balanço de 2004 do setor será publicado no final do mês, garante a CBL. Os editores explicam que 2004 foi melhor que o ano anterior, já que o governo comprou mais livros para as bibliotecas e houve best sellers como o já citado "Código da Vinci". Os professores e as editoras concordam num ponto: a abertura de mais bibliotecas aumentaria a leitura no país.