Título: Aposentado usa crédito para quitar dívida
Autor: Raquel Balarin
Fonte: Valor Econômico, 20/07/2005, Finanças, p. C8

Consignado Pesquisa do Ibope indica que poucos saldam cheque especial e tomador tem em média 59 anos

Os aposentados e pensionistas estão utilizando o crédito consignado principalmente para quitar dívidas. Mas, ao contrário do que é senso comum, o dinheiro não vai para saldar o cheque especial. Pesquisa encomendada pela Associação Brasileira de Bancos (ABBC) ao Ibope revela que 60% dos entrevistados utilizaram os recursos do crédito para pagar dívidas. Destes, 30% saldaram compromissos com lojas (cujas vendas são em grande parte financiadas por financeiras), 38% com bancos (sendo 23% do cartão de crédito e apenas 9% do cheque especial) e 39% com outras dívidas, como agiotas, condomínio e impostos. "A pesquisa desmistifica uma série de conceitos que se mostraram equivocados", explica o presidente da ABBC, João Ayres Rabêllo Filho. Segundo ele, o perfil do tomador indica que ele tem em média 59 anos, é do sexo feminino (61%), tem no máximo o ginásio incompleto (57%) e uma renda pessoal média de R$ 1.006,10. O valor do empréstimo corresponde, em média, a duas vezes sua renda. A ABBC encomendou o estudo, entre outros motivos, por causa da grande repercussão de casos de fraude e de reclamações de que os aposentados estavam sendo induzidos a tomar o empréstimo. O INSS chegou a fechar novos convênios por cerca de dois meses. O cadastramento foi reaberto no início do mês, com novas regras. Além disso, alguns executivos do setor financeiro vinham acusando o crédito consignado de "roubar" clientes do cheque especial. Os casos de fraude, de acordo com levantamento da ABBC, representam apenas 0,004% do total de contratos já assinados. E, embora seja inegável a agressividade de parte das instituições que oferecem crédito consignado, a pesquisa do Ibope indica que 95% dos entrevistados tomou a iniciativa de conhecer melhor o empréstimo e apenas 4% foram procurados pelo banco. "A agressividade existe, mas não é eficaz. Não é isso que faz o aposentado tomar o crédito", afirma Renato Oliva, do Banco Cacique. Dos entrevistados, 64% souberam do empréstimo pela TV. O Ibope entrevistou 600 aposentados e pensionistas, clientes de oito instituições financeiras que operam o crédito consignado: BMG, Cacique, Cruzeiro do Sul, BGN, Bonsucesso, Schahin, Pine e BMC. A Caixa Econômica Federal (CEF), embora responda por 40% dos cerca de R$ 8 bilhões já concedidos a aposentados e pensionistas do INSS, não foi incluída na pesquisa. A ABBC prepara ainda duas cartilhas explicando o crédito consignado, as taxas envolvidas e as regras. Uma delas será distribuída a aposentados e pensionistas e a outra, a correspondentes bancários, que estão na linha de frente da oferta do empréstimo. A expectativa é de que as cartilhas sejam distribuídas em agosto, em parceria com a Febraban (Federação Brasileira de Bancos). Hoje, 91% dos entrevistados consideram que as informações sobre o consignado são claras, mas 5% ainda consideram os dados confusos. A expectativa é de que a reabertura dos convênios pelo INSS aumente a competição no crédito consignado e derrube mais as taxas de juro. Neste primeiro ano, o produto foi oferecido principalmente por bancos médios e pequenos, entre os bancos privados. Só agora, os grandes de varejo devem entrar na disputa. Para Oliva, a concorrência não deve tirar os menores do mercado. "O que vai acontecer é que a vida do banco menor ficará mais dura." Segundo ele, os grandes devem trabalhar mais com a população bancarizada. No Cacique, 40% dos tomadores não têm conta corrente.