Título: Mulher de Valério tenta sacar R$ 1,8 milhão
Autor: Juliano Basile
Fonte: Valor Econômico, 21/07/2005, Política, p. A7

Crise Publicitário pode ter todas as contas bloqueadas e perder o direito à "delação premiada"

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Nelson Jobim, bloqueou, ontem, um saque de R$ 1,89 milhão que seria feito pela mulher do publicitário Marcos Valério de Souza, Renilda Santiago, numa agência do BankBoston em Belo Horizonte. Com o episódio, todas as contas do publicitário e de sua mulher poderão ser bloqueadas no país nos próximos dias. Também ficará praticamente descartada a hipótese de Valério obter a chamada "delação premiada" - a redução de pena em troca de colaboração com as investigações. O BankBoston informou imediatamente ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) sobre o saque de Renilda no fim da manhã de ontem, quando ela ainda se encontrava na agência. Responsável por fiscalizar as transferências bancárias de valores elevados no país, o Coaf acionou a Polícia Federal. O procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, foi informado e redigiu a petição para bloquear a conta de Renilda na hora do almoço. Ele pediu a Jobim que bloqueasse o valor da conta "até o esclarecimento dos fatos". O procurador-geral justificou o pedido alegando que há "suspeita sobre a origem dos recursos movimentados" por Valério, sua empresa e sua mulher. Renilda é proprietária das agências de publicidade administradas por Valério, a SMPB e DNA. As agências são suspeitas de atuar no suposto esquema de pagamento de mesadas a parlamentares. O Coaf suspeita das movimentações dessas agências, pois foram efetuados saques de mais de R$ 20 milhões em dinheiro nos últimos dois anos. O presidente do STF deferiu o bloqueio da conta de Renilda por volta das 15 horas. Ele entendeu que o caso era urgente e assinou a autorização para suspender o saque de Renilda de imediato. O pedido de bloqueio foi restrito à conta nº 34524202 de Renilda no BankBoston para que a decisão fosse tomada em tempo hábil. Renilda estava na agência para fazer o resgate da conta e o procurador teve de agir com muita rapidez, informou uma fonte do Ministério Público Federal. O episódio deverá levar o chefe do MPF a pedir o bloqueio de todas as contas de Valério e de Renilda. Segundo informações obtidas pelo procurador-geral, existem aproximadamente cem nomes autorizados para fazer saques nas contas de Valério. O caso chegou a Jobim porque as investigações sobre o pagamento de mensalão envolvem autoridades com foro privilegiado, como deputados e ministros de Estado. Essas autoridades só podem ser julgadas pelo STF. Dados sigilosos em poder da CPI dos Correios mostram que o empresário Marcos Valério tem declarados muitos bens em seu Imposto de Renda de 2005, mas a maior parte desses bens está em nome da mulher Renilda Fernandes de Souza e de seus filhos, João e Natália. O deputado Pompeo de Mattos (PDT-RS) teve acesso aos dados e diz que dos R$ 18,517 milhões de bens declarados por Valério neste ano, apenas R$ 2,5 milhões estão em seu nome. "E ainda assim são bens pouco expressivos diante da relação que ele forneceu à CPI", disse. Na lista, em nome de Valério, estão 13 cavalos de raça, que somam R$ 1,3 milhão; cotas da empresa SMP&B, no valor de R$ 50 mil; aplicações financeiras no Bank Boston, de R$ 196,5 mil; e um veículo da marca Mitsubishi modelo Pajero, em R$ 124 mil. "Ele é um pobre milionário", ironizou Mattos. A maior parte dos bens está no nome de Renilda. Cotas de SMP&B, da holding Grafitti, aplicações vultosas no Bank Boston, no Banco Alfa Investimentos, fundos de investimento do Banco do Brasil, terrenos, casas, lotes, veículos, além de cotas de empresas de participações. A evolução patrimonial de Valério mostra, segundo os dados de seu sigilo, que seus bens, e de seus familiares, cresceu de forma substancial entre 2000 e 2005, saltando de R$ 2,904 milhões em 2000 para R$ 18,517 milhões em 2005. Ao mesmo tempo, o Imposto de Renda de Valério anota uma evolução muito mais tímida em seus rendimentos no período, saindo de R$ 54,8 mil em 2001 para R$ 90,2 mil em 2005. (Colaborou Henrique Gomes Batista)