Título: Assessor do PP sacou R$ 300 mil no dia da votação da CPMF
Autor: Mauro Zanatta
Fonte: Valor Econômico, 21/07/2005, Política, p. A8

Crise Retirada foi feita por João Claudio Carvalho em contas do empresário Marcos Valério

O chefe de gabinete do líder do PP na Câmara, José Janene (PR), João Claudio Carvalho Genu, realizou seis saques no valor de R$ 1,15 milhão das contas da SMP&B, agência de Marcos Valério Fernandes de Souza, em períodos coincidentes com a aprovação de propostas de extremo interesse do governo na Câmara, em 2003. Dados da movimentação financeira das empresas de Valério, acusado de pagar o "mensalão" a deputados aliados ao governo, em poder da CPI dos Correios, mostram que no dia 17 de setembro Genu sacou R$ 300 mil por meio do cheque nº 745773, do Banco Rural, na agência do Brasília Shopping com a carteira de identidade nº 765945, emitida no Distrito Federal. Seis dias depois, em 24 de setembro, o assessor fez mais dois saques de R$ 300 mil caca com os cheques nº 745841 e 745945. Sob a gestão do então presidente da Casa, João Paulo Cunha (PT-SP), a Câmara aprovou neste mesmo dia a reforma tributária que prorrogou até 2007 a Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), aumentando a alíquota de 0,08% para 0,38%, e a Desvinculação das Receitas da União (DRU), que permitiu ao governo usar livremente 20% dos recursos de impostos e contribuições. A mulher de João Paulo Cunha, Márcia Regina Milanesio Cunha, também sacou R$ 50 mil da conta da SMP&B do Banco Rural em 4 de setembro de 2003. Um mês após os saques de Genu, a Câmara aprovou a reforma da Previdência. Genu também fez mais dois saques de R$ 100 mil (cheque nº 413859) e R$ 150 mil (cheque nº 113860) em 14 de janeiro de 2004. A lista de sacadores das contas das empresas já contabiliza R$ 26,496 milhões, segundo dados preliminares da CPI dos Correios. São 46 pessoas identificadas pelos técnicos da CPI nas contas das empresas de Marcos Valério e há uma outra pessoa ainda não identificada, que teria sacado R$ 1 milhão na mesma conta. "Mas há valores que ainda não foram somados. Chegaram os extratos, mas não os cheques", afirmou o deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ). A análise da movimentação financeira das contas da DNA Propaganda e SMP&B Comunicações no Banco Rural em 2003 e 2004, segundo membros da CPI, demonstram que essas pessoas realizaram saques de altos valores no período nas agências do banco em São Paulo, Belo Horizonte e Brasília. Estão na lista dos beneficiários recebida pela CPI o deputado Josias Gomes (PT-BA) - que utilizou sua identidade de parlamentar para o saque de R$ 100 mil. Em nota, ele admitiu o saque a pedido do ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares, para pagar contas do partido na Bahia. Os dados mostram ainda saques feitos por Wilmar Lacerda, presidente do PT no Distrito Federal, e Raimundo Ferreira da Silva Junior, vice-presidente da sigla em Brasília e ex-assessor do deputado Paulo Delgado (PT-MG). O ex-tesoureiro do PL afastado em fevereiro, Jacinto Lammas, ligado ao presidente da legenda, deputado Valdemar Costa Neto (SP), aparece na lista sacando R$ 200 mil. José Luiz Alves, assessor do ex-ministro dos Transportes Anderson Adauto, sacou, segundo dados da CPI, R$ 250 mil. O deputado Maurício Rands (PT-PE) pediu ontem à CPI a quebra do sigilo das empresa de Valério antes de 2003. Até agora, só chegaram dados de 2003 e 2004. A notícia de que novos nomes apareceram na lista de pessoas que receberam recursos das empresas de Marcos Valério provocou, ontem, a queda do presidente da Fundação Municipal de Cultura de Belo Horizonte, capital governada pelo PT. Rodrigo Barroso Fernandes pediu seu afastamento ao prefeito Fernando Pimentel no final da tarde, depois de saber que seu nome estava na lista. Numa nota oficial à imprensa, ele negou, por outro lado, que tenha recebido o dinheiro. "Esclareço que não recebi qualquer recurso desta empresa (SMP&B), com a qual nunca mantive qualquer relação, tampouco com seus dirigentes ou funcionários", afirmou Barroso, dizendo-se surpreso e indignado. Ele explicou que decidiu se afastar até que seja apurado se a inclusão de seu nome "é produto de equívoco ou má fé". Para tanto, avisou que tomará "as providências jurídicas cabíveis". Já o também mineiro Cantídio Cotta de Figueiredo, uma das lideranças do PTB em Coronel Fabriciano (MG), confirmou o recebimento de aproximadamente R$ 68 mil reais. Segundo ele, o dinheiro foi destinado à campanha eleitoral da coligação PTB/PFL na disputa pela prefeitura do município, na qual o principal adversário, que acabou vencedor, era o PT. O dirigente local do PTB disse que foi chamado a comparecer numa agência do Banco Rural para sacar os recursos em espécie, sem saber que eles vinham de uma empresa de Marcos Valério. Ele justificou que, diante da necessidade de angariar recursos, não se preocupou em saber qual era a origem do dinheiro. Perguntado se poderia dizer, pelo menos, quem ou que instituição o avisou do auxílio financeiro e o orientou a se dirigir banco, Cantídio disse não se lembrar. "A eleição acaba e a gente esquece", afirmou ele, em entrevista ao Valor.