Título: Rocha decide deixar cargo de líder
Autor: Raymundo Costa
Fonte: Valor Econômico, 21/07/2005, Política, p. A8

O deputado Paulo Rocha (PA) decidiu renunciar ao cargo de líder do PT na Câmara, para o qual foi eleito no início deste ano. Uma assessora do deputado sacou R$ 470 mil na agência do Banco Rural, em Brasília, segundo informações recebidas pela CPI dos Correios. Rocha deve divulgar, no final da manhã de hoje, a nota que havia prometido para ontem. O ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP) decidiu constituir advogado e só pretende falar sobre o saque efetuado por sua mulher, no total de R$ 50 mil, após a CPI examinar em profundidade os saques bancários. Já na segunda-feira, Rocha pretendia admitir ter recebido o dinheiro sacado por sua assessora e renunciar ao cargo de líder. Foi convencido por outros deputados da bancada com o argumento de que todos os deputados na lista do Rural deveriam se explicar conjuntamente, mais tarde. Em reunião realizada na segunda-feira, Rocha disse que estava "constrangido" e que iria renunciar para não prejudicar ainda mais o partido. Avisou que iria admitir que recebera o dinheiro na condição de presidente do diretório regional do PT do Pará, e que os recursos foram empregados para pagar dívidas da campanha da senadora Ana Júlia Carepa na eleição para a prefeitura de Belém. Emocionado, Rocha reconheceu que cometera um erro ao usar recursos não contabilizados na eleição, mas que " infelizmente" não havia outro jeito de fazer campanha. A senadora Ana Júlia Carepa perdeu a eleição para o petebista Duciomar Costa. Rocha reiterou, na reunião com deputados da bancada, que os R$ 470 mil foram integralmente usados na campanha eleitoral. O deputado paraense, no entanto, foi convencido pelos colegas a não admitir publicamente o recebimento do dinheiro. Pelo menos por enquanto. Ontem, em rápida conversa com o Valor, Rocha disse que faz parte de um "projeto coletivo", que está " tranqüilo" e prometeu divulgar hoje nota sobre o assunto. O deputado não quis confirmar se iria ou não renunciar, decisão, na realidade, já tomada por ele e comunicada ao PT. A amigos, o deputado João Paulo Cunha lastimou sobretudo o fato de ter enviado sua mulher, Márcia, fazer o saque no Rural. Embora tenha considerado que cometeu um erro grave e que deve pagar por ele, nessas conversas João Paulo manifestou a expectativa de que haja compreensão para o fato de que recebeu dinheiro para pagar despesas da campanha vitoriosa de seu candidato à prefeitura de Osasco. Ou seja, não estava em nenhum "mensalão". Na avaliação de dirigentes petistas, a situação dos deputados João Paulo Cunha, Paulo Rocha e Josias Gomes, presidente do diretório regional da Bahia, é difícil, e talvez só reste a eles a opção de renunciar ao mandato, para evitar futura cassação, com a conseqüente suspensão dos direitos políticos, o que os tornaria inelegíveis nas próximas eleições. Ontem, o deputado Tarcísio Zimmermann (PT-RS) pediu "a convocação urgente de uma reunião da bancada do PT para que seus membros se posicionem e deliberem sobre as denúncias relacionadas" a saques no Rural. "Precisamos responder com agilidade e clareza para evitar desgaste ainda maior para o PT e seu patrimônio ético e político", afirmou.