Título: Menor procura por vagas reduz desemprego
Autor: Vera Saavedra Durão
Fonte: Valor Econômico, 22/07/2005, Brasil, p. A3

Conjuntura Renda cresce 1,5% sobre maio, mas fica abaixo de 2004

O desemprego voltou a cair em junho registrando taxa de 9,4%, o menor índice dos últimos três anos, influenciado pelas fortes quedas da desocupação no Rio e em Recife, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A queda em relação a maio foi de 0,8 pontos percentuais. Na comparação com junho do ano passado, a ocupação cresceu 3,4% e o emprego com carteira assinada, 6,6%. O rendimento médio real, em junho, foi de R$ 945,80, o que representa elevação de 1,5% no confronto com maio e queda de 0,3% em relação a junho de 2004. O rendimento dos com carteira subiu 1,3% sobre maio, mas caiu 2,0% em relação a junho de 2004, o que não ocorria desde setembro. Para os sem carteira, o rendimento médio real subiu 4,9% em junho sobre maio e ficou estável em relação a 2004. Para o IBGE, a redução do desemprego nas seis maiores regiões metropolitanas do país ocorreu por que 500 mil pessoas deixaram de procurar emprego nos últimos 12 meses. Pela pesquisa, 21,9 milhões de pessoas estavam economicamente ativas em junho, percentual 0,8% inferior ao de maio. Marcelo de Ávila, economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) concorda com o diagnóstico do IBGE, mas acredita que a queda do desemprego não indica um aquecimento do mercado de trabalho. "As pessoas estão deixando de procurar emprego por conta de desalento ou por estarem insatisfeitas com os salários baixos oferecidos pelas empresas", argumenta. Segundo sua análise, está ocorrendo um deslocamento dos sem carteira para o mercado formal, principalmente da mão-de-obra mais qualificada com mais de 11 anos de estudo, que está estimulando um rebaixamento salarial nas empresas. Outro dado que influiu na redução do desemprego no mês passado foi a forte retração ocorrida nos índices de Recife e Rio de Janeiro, cujas taxas baixaram de 12,8% em maio para 9,6% e de 8,5% para 6,9%, respectivamente. Salvador manteve estabilidade ante maio, o mesmo ocorrendo com São Paulo. Belo Horizonte caiu de 8,9% para 8,5% e Porto Alegre baixou para 7,1% ante 7,7% em maio. Em junho manteve-se pelo quarto mês consecutivo um aumento na taxa de ocupação. Em relação a junho de 2004, ela cresceu 3,5%, o que representou a criação de 647 mil novas vagas no período. Em maio esta taxa foi superior e ficou em 3,8%. Mas este comportamento ainda não indica tendência. Segundo Ávila, esta é uma boa taxa de ocupação, pois situa-se acima da previsão de 2,8% para crescimento do PIB, feita pelo Ipea para 2005. No primeiro trimestre, o PIB do período cresceu 2,9% em relação ao mesmo trimestre de 2004, e a taxa de ocupação subiu 3,9%. A pesquisa do IBGE confirmou ainda que continua a tendência de melhoria na qualidade do mercado de trabalho. Pelo quinto mês consecutivo, o ritmo de criação de postos formais de trabalho no setor privado ficou acima do contingente dos sem carteira, na comparação com 2004. O emprego com carteira cresceu 6,6% no período e o sem carteira manteve estabilidade. Esse resultado mostra uma desaceleração na ocupação não-formal. Em abril, os sem carteira cresceram 2,2% e os com carteira, 6,4%. Em maio, os sem expandiram 1% e os com carteira, 7,1%. "É bem provável que mantido este movimento os empregos sem carteira podem mostrar queda em julho. Na análise do economista do Ipea não há indícios de piora no mercado de trabalho, pois o nível de atividade da indústria, segundo projeções do próprio Ipea, deve ter apresentado crescimento em junho, depois de crescer 1,3% em maio. Entretanto, como o juro ainda não apresentou queda e o câmbio continua valorizado pode ter havido um certo esfriamento nas intenções do setor privado de criar novos empregos, principalmente nos setores exportadores. "Nâo dá ainda para fazer previsão do que pode acontecer no mercado de trabalho no segundo semestre. O certo é que ao invés de focar na quantidade está havendo aumento de qualidade, mas não acredito em explosão de ocupação", considerou Ávila. Segundo ele, a crise política ainda não refletiu no emprego.