Título: Efeito comercial imediato para o Brasil deve ser nulo
Autor: Raquel Landim
Fonte: Valor Econômico, 22/07/2005, Internacional, p. A9

Reação Para empresários, medida chinesa é mais política que econômica

O efeito comercial imediato da valorização de apenas 2% do yuan chinês é "nulo" para a balança comercial do Brasil, avaliam empresários e economistas ouvidos pelo Valor. Se esse movimento se aprofundar, os produtos brasileiros podem ser beneficiados em terceiros mercados. Mas também há temores de que a variação cambial esfrie a pujante a economia chinesa e afete a demanda do país por matérias-primas brasileiras, como soja e minério de ferro. "É um gesto simbólico", afirmou Fernando Pimentel, diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit). "2% é uma brincadeira", fez coro Nestor de Castro Neto, presidente para a América do Sul da Voith Paper, multinacional fabricante de bens de capital. O presidente da Sony no Brasil, Minoru Itaya, acredita que a mudança do câmbio na China não irá alterar a competitividade dos produtos chineses no mercado internacional. "Os 2% anunciados não ajudam em nada. Eles são apenas políticos e não econômicos. Só terão mesmo um efeito psicológico", disse o executivo. Devido à falta de competitividade, a fábrica da Sony em Manaus só exporta televisores para a Argentina. Os demais produtos e os demais países da América do Sul são abastecidos pela Ásia. Roberto Gianetti da Fonseca, diretor do departamento de comércio exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), também considerou que a "mudança não refresca nada". Ele chama atenção para a estreita banda de flutuação de 0,3% mantida pelo país. Fonseca garante que a Fiesp continuará pressionando o governo brasileiro pela adoção de salvaguardas comerciais contra a China. José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação Brasileira de Comércio Exterior (AEB), também diz que "o reflexo no curto prazo é nulo", mas chama atenção para o impacto "psicológico" da medida. Élcio Jacometti, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Calçados (Abicalçados), concorda. "Imediatamente é pouco, mas vemos uma luz no fim do túnel". O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, afirmou ontem, em Brasília, que a decisão do governo chinês é positiva. "Mas evidentemente isso é o primeiro passo de uma reforma cambial mais ampla", disse. Meirelles acrescentou que "não há dúvidas que o mercado chinês está se abrindo". Líder da revolução comunista da China, Mao Tsé-tung dizia que "a longa marcha começa com o primeiro passo". Se for verdade nesse caso, dizem os empresários, uma valorização profunda do yuan poderia elevar a competitividade dos produtos brasileiros em terceiros mercados. Para conseguir esse efeito, as estimativas do setor privado apontam que seria necessário entre 20% e 30% de alta da moeda chinesa. "A valorização do yuan pode prejudicar a competitividade da China em mercados como Japão, Coréia e abrir espaço para a carne bovina brasileira", diz Hudson Carvalho Silveira, gerente de exportação do Frigorífico Bertim. Outro benefício indireto para os exportadores seria a desvalorização do real. Se as exportações chinesas perdem competitividade por conta da alta do yuan, o superávit comercial do país cai. Com menos dinheiro em caixa, Pequim aplicaria menos recursos em títulos do Tesouro americano. Esses papéis pagariam taxas mais altas, atraindo recursos hoje aplicados em países emergentes como o Brasil. Com a saída de dólares, o real se desvaloriza ante a moeda americana. Mas uma mudança cambial de porte expressivo na economia chinesa também traria efeitos negativos. Mônica Baer, economista da MB Associados, lembra que a China pode decidir intensificar a valorização da moeda para reduzir o ritmo de crescimento de sua economia, que enfrenta sérios problemas de logística. O desaquecimento da economia chinesa prejudicaria o comércio mundial e, conseqüentemente, as exportações brasileiras. "Poderíamos ganhar em preço com exportações mais competitivas, mas perderíamos em termos de demanda", diz. Carlos Loureiro, diretor-presidente da distribuidora de aço Rio Negro, lembra que o consumo de minério de ferro praticamente não sofre influencia de preço, e depende exclusivamente da demanda. "Os preços subiram 70%, mas as exportações aumentaram", diz o executivo. "2% é muito pouco, mas os chineses saíram da imobilidade. As pedras do tabuleiro devem se mexer". Mônica, da MB, diz que os chineses tentarão ser cautelosos ao valorizar a moeda. "Nem eles, nem o mundo, sabe o que pode acontecer", diz. Nessa história, o Brasil é um mero espectador.