Título: Troca do C-Bond pode atingir US$ 4 bi
Autor: Cristiane Perini Lucchesi e Arnaldo Galvão
Fonte: Valor Econômico, 22/07/2005, Finanças, p. C1

Mercado Externo Operação trará alongamento de prazo de no mínimo dois anos e três meses

A troca do C-Bond - o mais famoso título da dívida externa brasileira reestruturada em 1994 - por um papel de prazo mais longo foi considerada um sucesso pelos especialistas ouvidos pelo Valor. Os comentários eram de que mesmo os investidores que possuíam pequenas quantias do papel quiseram entrar na troca. O total a ser trocado não seria de menos do que US$ 3 bilhões e poderia chegar a US$ 4 bilhões, dos US$ 5,6 bilhões em C-Bonds nas mãos do mercado hoje. Quem define o total da troca é o Tesouro Nacional, que vai anunciar hoje sua decisão. Tudo vai depender do prazo de alongamento mínimo que o Tesouro vai aceitar no novo título em relação ao C-Bond. Especialistas do mercado acreditavam ontem que, para fugir da forte concentração de amortizações da dívida externa brasileira em 2006 e 2007, o Tesouro iria determinar um alongamento de no mínimo dois anos e três meses. Desde 15 de abril de 2004, o C-Bond tem amortizações semestrais que, no ano, chegam a US$ 600 milhões. O novo título terá cronograma de amortização semelhante, porém deslocado no tempo. O novo período de carência no pagamento do principal, a contar a partir de outubro, será do mesmo tamanho que a extensão no prazo final do título. Se o Tesouro decidir trocar o C-Bond, que vence em 2014, por um título que vence em 2017, estará também decidindo não pagar amortizações por três anos a partir de outubro próximo. Para fins de leilão, o Tesouro definiu ontem que o prazo máximo de alongamento do prazo do novo título em relação ao C-Bond será de quatro anos. Esse prazo máximo, na visão dos especialistas ouvidos pelo Valor, foi considerado justo - ainda garante que o investidor não perca na troca. Por isso, os especialistas acreditam que a maior parte das ofertas feitas pelos investidores foram não-competitivas - vão aceitar o alongamento de prazo que o governo determinar hoje. Mas houve quem fizesse ofertas competitivas, que especificam um alongamento de prazo máximo a ser aceito na troca. Em troca do alongamento de prazo, o Tesouro vai abrir mão do seu direito de resgatar antecipadamente o papel. O novo título não terá opção de resgate antecipado ("call") como possui o C-Bond. O prazo máximo a ser aceito pelo investidor depende, portanto, do valor da "call" do C-Bond. O mercado calculou que esse valor iria de 2,5 a 5 anos. Os 4 anos do Tesouro, portanto, parecem razoáveis. Os especialistas dizem que o objetivo do Tesouro é fazer uma operação grande, para resgatar o que resta do C-Bond a 100% do valor de face em outubro. O mercado está certo de que a "call" será exercida e já colocou isso nos preços dos títulos. Muitos investidores entraram na troca justamente porque apostaram que ela seria grande e que o C-Bond perderia mais liquidez. O novo título vai pagar os mesmos juros nominais (cupom) do C-Bond, de 8% ao ano, pouco menos de US$ 240 milhões por semestre. Os novos títulos serão trocados na relação de um para um com o C-Bond. Estigmatizado como o principal título da moratória de 1994, o C-Bond foi o bônus com maior liquidez entre todos os emitidos pelo Tesouro brasileiro durante muitos anos. Até 2003 era o "benchmark" de todos os mercados emergentes. No ano passado, no entanto, o Global 40, título da dívida nova, voluntária, do Brasil, passou para a primeira posição, com giro de US$ 292,649 bilhões, na comparação com os US$ 222,353 bilhões do C-Bond, segundo a EMTA (Emerging Markets Traders Association).