Título: Ninguém sabe da maracutaia
Autor: Herdy, Thiago; Mellom, Alessandra; Almeida, Amanda
Fonte: Correio Braziliense, 18/04/2010, Política, p. 8/9

Deputados que contrataram as empresas garantem desconhecer irregularidades na prestação do serviço

Todos os deputados ouvidos negaram fazer parte de um esquema de notas frias. Antônio Júlio (PMDB) admitiu conhecer Joaquim Milagres, o sócio da Máxima Serviços Ltda. e confirma ter contratado serviços com ele. Mas afirmou que sempre fez pesquisas de preços no mercado e que nunca desconfiou dos valores cobrados pelo empresário. Sávio Souza Cruz (PMDB) disse que confia na cotação de preços realizada por seus assessores. ¿Eu simplesmente falo assim `é para imprimir 200 mil exemplares desse aqui¿¿. O deputado José Henrique também disse que delega funções aos assessores e disse não conhecer a Máxima. O deputado Delvito Alves (PTB) afirmou que sempre fez material de campanha e de gabinete com Joaquim, mas que desconhecia a terceirização de serviços.

O deputado Chico Uejo (PSB) se disse surpreso com a diferença entre os valores pagos pelos deputados e os valores gastos pela Máxima. ¿É verdade isso? Ô louco¿, disse o parlamentar, que afirma contratar o serviço de diferentes empresas para divulgação. Hely Tarquínio (PV) afirmou que não tem tempo para checar o preço cobrado pelas empresas que prestam serviços de comunicação para ele. ¿Eu cuido mais da política, esse lado aí é que deixo para a área administrativa do gabinete. Pode parecer displicência, mas a política e a medicina me absorvem tanto que eu fico mais é no front¿, afirmou. Fábio Avelar reconheceu ter contratado o serviço da Máxima, mas negou irregularidades. O deputado Eros Biondini (PTB) não atendeu a ligação, porque estava em um show no interior. Os deputados Adalclever Lopes (PMDB), Juninho Araújo (PTB), Doutor Rinaldo (PSL), Mauri Torres (PSDB) e Gilberto Abramo (PRB) não foram localizados.

Notas frias Já os deputados citados por Washington Marques de Almeida como compradores de notas frias da empresa que leva seu próprio nome afirmam desconhecer qualquer esquema envolvendo notas frias para comprovar despesas do mandato. ¿Não me lembro dessa pessoa. Não mexo diretamente (com a contratação de empresas). Que troço chato. Não acontece isso¿, disse Carlos Gomes. Ele pediu ao repórter que repetisse o nome de Washington diversas vezes, prometendo anotar e pesquisar se a empresa foi contratada por ele.

Dimas Fabiano também disse não produzir notas frias. ¿Todo material (que encomendo) é feito e distribuído¿, disse. Segundo ele, a contratação de empresas é feita por funcionários de seu gabinete, por isso não sabe quem é Washington. Célio Moreira disse o mesmo: ¿Não entro nessa fria, faço tudo corretamente. Vou verificar o nome desse rapaz com o pessoal do gabinete.¿

O deputado Carlos Pimenta reconheceu que Washington prestou serviços para ele, mas garante que não houve fraude. ¿Deus me livre de um trem desses. É divulgação da atividade. São jornais que faço regularmente. Mas é tudo certo¿, afirmou. Alencar da Silveira também reconheceu ter contratado os serviços de Washington, mas negou ter havido irregularidades. O deputado Juarez Távola não foi localizado.

Entenda a investigação

FASE 1 Nos últimos quatro meses, a reportagem do Correio/Estado de Minas elaborou um banco de dados com as informações contidas nas notas fiscais apresentadas pelos deputados estaduais de Minas Gerais para receberem a verba indenizatória. Desde julho do ano passado, os dados são disponibilizados no site da Assembleia.

Em poder dos dados, os jornalistas criaram duas planilhas paralelas. A primeira traz as informações resumidas dos gastos, com tipo de despesa, nome do deputado, mês e valor. A segunda traz informações detalhadas de cada nota, como CNPJ e razão social da empresa emissora, além dos dados que constam na primeira planilha.

As duas tabelas foram confrontadas para garantir a confiabilidade das informações e eliminar qualquer chance de erro no processo de transferência de dados do site da Assembleia para o banco de dados.

Garantida a integridade das informações, chegou-se a um banco de dados com todas as 11.039 notas fiscais de 2,1 mil empresas diferentes, que totalizam a indenização global de R$ 8,6 milhões. As notas foram apresentadas entre julho de 2009 e janeiro de 2010.

FASE 2 A partir do banco de dados principal, a equipe produziu seis bancos de dados temáticos, para debulhar as informações obtidas. A reportagem checou cadastros na Receita Federal e/ou na Junta Comercial de mais de uma centena de empresas que se destacavam pelos vultuosos valores recebidos e pelo tipo de serviço prestado.

Os repórteres foram a campo complementar dados e conhecer as empresas de perto. Em alguns momentos, se passaram por assessores parlamentares para obter informações sobre os serviços prestados para os deputados e os métodos usados para burlar as regras de uso da verba.