Título: Esquerda rejeita candidatura de Genro nas eleições internas
Autor: Maria Lúcia Delgado e Henrique Gomes Batista
Fonte: Valor Econômico, 25/07/2005, Política, p. A5

O convite do Campo Majoritário, tendência que controla 60% do PT, para que o atual presidente do partido, Tarso Genro, seja seu candidato às eleições internas previstas para setembro, foi mal recebido pelas correntes de esquerda da legenda. Para Valter Pomar, candidato da Articulação de Esquerda e vice-presidente do PT, a postulação inviabilizaria o atual papel de Genro no partido. "Ele tem um papel de magistrado a cumprir na limpeza política e moral do PT. Essa tarefa será inviabilizada pela candidatura à presidência porque ele terá de assumir alguns compromissos que podem impedir sua atual missão." Apesar de criticar o acúmulo da presidência do PT com a possível candidatura à reeleição, Pomar admitiu que Genro é o melhor nome do Campo para as eleições. "Ele parece não estar comprometido com esse lado terrível do partido." Genro é considerado como um dos poucos integrantes do Campo Majoritário com capacidade para unir as diversas tendências internas do PT em torno de um projeto único. Se ele desistir da eleição, os possíveis candidatos do Campo são: o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT); o secretário-geral do partido, Ricardo Berzoini; o ex-secretário de Direitos Humanos Nilmário Miranda; e o assessor especial da Presidência da República Marco Aurélio Garcia. Amanhã, o grupo de 22 deputados mais a esquerda da legenda se reúnem em Brasília e devem oficializar uma dissidência mais explícita do comando da sigla. O encontro ocorrerá em um momento em que os dissidentes têm um peso fora do comum, dentro da bancada de 91 deputados. "Temos que repactuar as forças no PT. É muito importante neste momento o diálogo com a esquerda", alertou o líder do partido no Senado, Aloízio Mercadante (PT-SP). "Ou nós seremos ouvidos ou a situação de todo o partido será deteriorada, não dá mais para o campo majoritário impor suas vontades", disse um deputado esquerdista. A tendência é que os 22 petistas oficializem uma dissidência no PT, mas permaneçam no partido. Na semana passada, em viagem a Taubaté, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi alertado por um petista da esquerda que é preciso dialogar com a bancada, diante da dimensão da crise. A indefinição que pairou na semana passada na escolha de um sucessor provisório na liderança do partido - depois do afastamento de Paulo Rocha (PA), que tem uma assessora nos saques das contas de Marcos Valério - deixou desequilibrado o jogo dentro da sigla, como reconhecem reservadamente integrantes do campo majoritário. A liderança da bancada, provisoriamente, está a cargo do colégio de vice-líderes - 25 deputados. O deputado Henrique Fontana (PT-RS) assume a coordenação. O campo majoritário do PT fez na quinta-feira uma reunião de emergência, que chegou a ser constrangedora pela falta de entusiasmo dos deputados em assumir a liderança provisória. Um dos candidatos a líder, que deve ser escolhido no início de agosto, seria Fontana, que não pertence ao campo majoritário, mas também está distante da esquerda. Petistas da esquerda não apóiam a escolha, o que dificulta seu nome. Outra possibilidade seria Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), próximo do núcleo do poder no Executivo, mas historicamente identificado com os integrantes da esquerda. O novo presidente do PT, Tarso Genro, reuniu-se com o ex-ministro José Dirceu na noite de quarta-feira. Mais uma vez, o PT tenta aparar arestas internas. Genro está disposto a ficar à frente do PT até o final do ano e preparar a transição para o candidato que for eleito à presidência em setembro. Um segmento expressivo do PT, do campo majoritário, acha que Genro tem que permanecer à frente do PT. Isso teria que ser fruto de uma ampla recomposição interna, que passa pela esquerda do partido. As mudanças na articulação política do Executivo, de acordo com os petistas, não ajudaram a amenizar os problemas no PT, risco de implosão interna. Esses dissidentes petistas mostraram-se abertos para uma conversa com o ministro-chefe do Gabinete de Coordenação Política e Articulação Institucional, Jacques Wagner. No entanto, o Palácio do Planalto parece ainda não ter percebido o risco e o significado da fragmentação oficial da bancada. Mesmo diante da gravidade da situação política, a bancada do PT na Câmara não se reuniu. Os petistas alegam não ter interlocução com o líder do governo, Arlindo Chinaglia (PT-SP). (Com Folhapress)