Título: CPI descobre lavagem de dinheiro de Valério no exterior até 2001
Autor: Daniel Rittner e Thiago Vitale Jayme
Fonte: Valor Econômico, 25/07/2005, Política, p. A6

As agências de publicidade do empresário Marcos Valério de Souza movimentaram quase R$ 1,2 milhão na conta da Beacon Hill, "offshore" em Nova York. Fechada em 2003 por ordem do governo americano, a Beacon Hill Service Corporation funcionava como uma retransmissora de fundos que ocultava os verdadeiros responsáveis pela operação. É apontada pelo delegado da Polícia Federal José Francisco de Castilho Neto, como a maior lavanderia de dinheiro brasileiro em Nova York. As remessas eram realizadas do Brasil para os Estados Unidos por meio de um esquema de compensação paralelo, que não deixava registros oficiais. As movimentações, em nome da DNA e da SMP&B, começaram em fevereiro de 1998 e duraram até outubro de 2001. A promotoria de Nova York quebrou o sigilo bancário da conta que utilizava o codinome "Lonton", operada pelo doleiro mineiro Haroldo Bicalho, e constatou que as agências de Valério fizeram 50 ordens de pagamento no período, determinando a transferência do dinheiro para contas nos Estados Unidos, Inglaterra, França e Alemanha. As informações foram obtidas pelo senador Álvaro Dias (PSDB-PR) e complicam ainda mais a situação do publicitário na CPI dos Correios. Dias observou que ele mentiu no depoimento prestado à comissão, três semanas atrás. A CPI levantará ainda se a lavagem no exterior continuou depois de 2001. "Certamente ele continuou guardando o dinheiro dele em algum lugar (no exterior). É uma suposição que tem que ser feita e o Banco Central deve ir atrás disso", disse o senador Álvaro Dias. "Eu nunca enviei recursos ao exterior, e acredito que as minhas empresas também não fizeram isso", disse Valério à CPI, completando, dez horas mais tarde, que "talvez" tivesse pago fornecedores no exterior por meio do Banco do Brasil, em valores de US$ 5 mil a US$ 10 mil. "Existem indícios de crimes de lavagem de dinheiro, sonegação de impostos e evasão de divisas", afirmou o delegado da PF, José Francisco de Castilho Neto, o primeiro a investigar a conexão entre o Banestado e a Beacon Hill e trocar dados com a promotoria de Nova York, em 2003. A investigação resultou na CPI do Banestado, cuja relatoria coube ao deputado José Mentor (PT-SP). Ele é sócio majoritário do escritório de advocacia José Mentor, Pereira Mello e Souza. Na CPI dos Correios, foi encontrado um cheque no valor de R$ 60 mil emitido pela 2S Participações, de Valério, ao escritório. O cheque do Banco do Brasil data de 27 de julho de 2004. Segundo o deputado, ele recebeu outro cheque de R$ 60 mil em maio do mesmo ano. Nessa época Mentor ainda era relator da CPI do Banestado, que investigava evasão de divisas e lavagem de dinheiro. Uma das empresas de lavagem de dinheiro investigadas foi a Beacon Hill. O Banco Rural também fazia parte do rol de suspeitos. Hoje, a instituição está de volta à tona como um dos principais pontos de saída de dinheiro das contas de Valério para abastecer o suposto caixa-dois das campanhas petistas, na versão do ex-tesoureiro do partido, Delúbio Soares. A 2S Participações é uma das empresas de Valério. Relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras(Coaf), a 2S movimentou R$ 26,4 milhões em cerca de dois anos. Quando da descoberta do cheque, Mentor disse que o escritório prestara serviços aos advogado Rogério Tolentino, ligado a Valério. O deputado disse desconhecer que a 2S era de Valério. A reportagem tentou localizar Mentor ontem, mas o celular do deputado estava desligado. Consultada, a DNA afirmou que as transações no exterior não eram de conhecimento do presidente de mídia da agência, Francisco Castilho, e da vice-presidente de mídia, Margarete de Freitas.