Título: CPI segue rastro de doadores do Caixa 2
Autor: Thiago Vitale Jayme eIvana Moreira
Fonte: Valor Econômico, 25/07/2005, Política, p. A7

Crise Parlamentares esperam que Usiminas tenha sido a primeira de uma lista de empresas que abasteceu Valério

A Usiminas foi a primeira de uma série de empresas que devem aparecer como fonte doadora de recursos do esquema de intermediação do publicitário Marcos Valério de Souza na nova fase de investigações da CPI dos Correios. "A semana deverá ser muito mais de análise dos documentos do que de depoimentos. Essa análise fará com que o foco recaia mais sobre os doadores e os receptores do dinheiro e deverá sair de Delúbio Soares e Marcos Valério", aposta Arnaldo Malheiros, advogado do ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares. "Transações bancárias sempre deixam rastro, que só será achado com mais investigação", completa. A Usiminas, uma das maiores fabricantes de aços planos do país, preferiu não fazer qualquer pronunciamento sobre o assunto, nem mesmo para se defender com uma resposta do tipo "fizemos o que outras empresas também fazem". O episódio, no entanto, trouxe convicção para membros da CPI dos Correios de que outras empresas podem estar envolvidas no caixa 2 operado por Marcos Valério. "Não é só a Usiminas", comentou o cientista político Fábio Wanderley Reis. "Isso acontece de forma generalizada no financiamento das campanhas." As empresas sofrem com frequência a pressão de políticos para dar contribuição legal ou ilegal, afirma Reis. "Mas também se beneficiam conquistando boas relações neste modelo tosco de financiamento." Com a confissão de políticos beneficiados pela Usiminas, como o deputado federal Roberto Brant (PFL), candidato à prefeitura de Belo Horizonte em 2004, entraram na lista de investigação da CPI outras empresas clientes das agências de Marcos Valério. Entre as empresas suspeitas de terem contribuído para o caixa 2 do PT estão clientes como Telemig Celular, Amazônia Celular e Fiat Automóveis. No meio dos documentos contábeis da agência DNA apreendidas em Belo Horizonte, há notas fiscais de serviços para estes entre outros clientes. Há suspeitas de que as notas eram frias, referentes a serviços nunca prestados. Entre os sacadores já identificados na conta da SMP&B no Banco Rural, há pelo menos quatro casos confirmados de dinheiro da Usiminas para campanha. O deputado Roberto Brant assumiu que seu assessor Nestor Francisco de Oliveira sacou R$ 102 mil doados pela siderúrgica através da agência. Tesoureiro da campanha do deputado mineiro João Leite, adversário de Brant em 2004, o tucano Roberto Menicutti confirmou o saque de R$ 205 mil doados pela Usiminas. Candidato a prefeitura de Nova Lima, Carlos Lisboa (PSDB) também atribuiu à empresa os saques num total de R$ 343 mil feitos pelo tesoureiro Newton Vieira Filho. Em Divinópolis, o sacador Antônio Fausto da Silva Barros disse que os R$ 44 mil foram doação da siderúrgica para o candidato à prefeitura Galileu Teixeira (PMDB). Numa clara tentativa de poupar a imagem de um dos seus clientes mais importante, a Usiminas, a SMP&B resolveu assumir como suas doações para esses políticos. No entanto, ninguém parece disposto a acreditar nesta declaração.