Título: CPI pode quebrar sigilos de Previ e Real Grandeza
Autor: Catherine Vieira, Chico Santos e Raquel Balarin
Fonte: Valor Econômico, 25/07/2005, Especial, p. A12

A CPI dos Correios pode fazer uma devassa nos fundos de pensão das estatais. O deputado Ônyx Lorenzoni (PFL-RS) quer que a ofensiva comece nesta semana, com a quebra dos sigilos fiscal e bancário da Previ e Real Grandeza. Somente esses dois fundos podem ter feito aplicações superiores a R$ 500 milhões no Rural e BMG, segundo estimativas do parlamentar. O Postalis (fundo dos Correios) teria investido mais de R$ 80 milhões nos dois bancos, que fizeram seis empréstimos ao PT, acrescenta. "É muito dinheiro", estranha Lorenzoni. Ele espera que o requerimento com a quebra dos sigilos dos fundos, apresentado há duas semanas, seja aprovado na quarta. Para o deputado, tem havido "protelações" para votar o requerimento tanto pelo presidente da CPI, Delcídio Amaral (PT-MS), quanto pelo relator, Osmar Serraglio (PMDB-PR). "É uma caixa-preta que vai se abrir", reforça o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), também a favor da investigação nos fundos. Fiscalizar fundos de pensão é uma tarefa cada vez mais complicada. Os instrumentos financeiros se sofisticaram e operações ilícitas têm hoje, à primeira vista, uma aparência de legalidade. No passado, as fraudes clássicas envolviam informações privilegiadas que permitiam auferir lucros pela antecipação de algum negócio. Os cercos foram se fechando e hoje as políticas de investimento são aprovadas por conselhos. A gestão de carteiras de renda variável foi em grande parte terceirizada e está sujeita a controles - embora na Real Grandeza uma auditoria detectou que os operadores podiam usar celulares no lugar de linhas fixas, que são monitoradas. Fontes de fundos de pensão contaram ao Valor que a brecha está hoje em fundos de renda fixa. E a operação ilícita pode estar em um inofensivo título público federal. Esses papéis podem ser comprados diretamente pela fundação. Mas muitas preferem adquiri-los de outras corretoras, pagando um deságio menor (como são de longo prazo, os títulos sempre têm deságio). A diferença entre o desconto original e o deságio pago pelo fundo é "dividido". Há ainda casos em que papéis que rendem bem são colocados em fundos de investimento do gestor; os que rendem mal, no da fundação.