Título: Arcelor amplia corte na produção
Autor: Ivo Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 25/07/2005, Empresas &, p. B1

Siderurgia Grupo prevê redução de 600 mil a 800 mil toneladas de aço plano no trimestre

A Arcelor, como outros fabricantes de aço europeus, deve amargar uma demanda fraca e preços em queda até outubro. Os estoques continuam elevados, com os primeiros sinais de arrefecimento vistos a partir de julho. A companhia européia, segunda maior do mundo, anunciou novos cortes de produção neste trimestre e adotou uma estratégia de não aceitar pedidos de compra no mercado à vista antes de outubro. "Os preços estão ruins neste momento e nossa expectativa é de que vão melhorar com a acomodação dos estoques e retomada da demanda nos próximos meses", afirmou Guy Dollé, presidente da empresa. Depois de cortar mais de 1,8 milhão de toneladas na oferta de suas usinas na Europa no primeiro semestre, a Arcelor prevê reduzir mais 600 mil a 800 mil toneladas apenas de aços planos de julho ao fim de setembro, comparado ao mesmo trimestre de 2004. Esse tipo de aço é usado na indústria automotiva, de embalagens e de eletrodomésticos, principalmente. No segmento de aços longos, para construção civil e indústria, segundo Dollé, o corte será insignificante neste trimestre. De janeiro a junho ele fez uma diminuição de 900 mil toneladas.

O principal executivo da Arcelor disse que "a situação de mercado mudou muito na Europa e Estados Unidos a partir do segundo trimestre para os aços planos e um pouco antes para os produtos longos". Conforme explica, os clientes diretos, como montadoras, e os da rede de distribuicao entraram o ano com os estoque altos, resultado de um receio da falta de produtos que aconteceu em todo o mundo nos últimos meses do ano passado. Outro fator desse cenário: a China, grande consumidora mundial (30% do volume global) passou a importar menos. "Cargas de aço que se destinavam ao mercado chinês tiveram de ser acomodadas na Europa e Estados Unidos." A Arcelor é a maior produtora de aço da Europa e, como ela, a ThyssenKrupp, Corus e Riva tiveram de ajustar a produção para defender os preços no mercado europeu. O executivo da companhia que faturou mais de 30 bilhões de euros em 2004, com produção de 47 milhões de toneladas de aço bruto, mostra-se otimista. "Na Europa, vemos os primeiros movimentos de clientes da rede de distribuicao buscando compras, o que mostra a retomada do mercado", disse Dollé. Outro sinal é o fato de os preços da sucata terem voltado a subir. Como em agosto toda a Europa estará em férias de verão, uma data-chave para o mercado local é 15 de setembro. "É quando as pessoas têm um encontro (virtual) marcado." Ou seja, todos estão de volta das férias e começam a tomar decisões para o restante do ano. A partir de setembro, acredita Dollé, os preços voltarão a subir no mercado spot. O executivo, que comanda o grupo de uma portentosa mansão que abriga a sede da Arcelor em Luxemburgo com quase 100 anos de idade, diz que até outubro os estoques em poder de clientes, distribuidores e das próprias usinas estarão em níveis ajustados à oferta e demanda. "Veremos de novo, para os aços planos e longos, a volta do consumo e o aumento dos preços." Cerca de metade das vendas da Arcelor é de aços planos e a empresa domina 30% das entregas para a indústria automotiva européia.