Título: Petista reconhece derrota iminente
Autor: Chico Santos e Cristiane Agostine
Fonte: Valor Econômico, 26/10/2004, Política, p. A6

Para Luiz Eduardo Greenhalgh, "concepção do Estado a favor dos pobres está prestes a ser derrotada"

O deputado federal Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) admitiu ontem, a menos de uma semana do segundo turno das eleições municipais, que a prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, candidata a um novo mandato pelo PT, está na iminência de ser derrotada pelo candidato do PSDB, José Serra. "A concepção do Estado a favor dos pobres e dos excluídos está prestes a ser derrotada", afirmou durante seminário sobre Getúlio Vargas, na sede do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Questionado, Greenhalgh disse que não estava admitindo a derrota, apenas considerando as últimas pesquisas. Segundo ele, o que está em jogo na eleição paulistana é o modelo de administração do Estado. Ele citou projetos como o Centro Educacional Unificado (CEU) e o bilhete único, criados por Marta, como exemplos "da intervenção do Estado a favor dos pobres e excluídos". "Já que é para falar de paulistas, estamos realmente na contramão", disse Greenhalgh depois de ter ouvido a economista Maria da Conceição Tavares fazer críticas ao pensamento predominante em São Paulo a respeito do papel de Vargas. Ontem, a petista voltou a dizer que é vítima de preconceito ao comentar o episódio do último sábado, em campanha com aposentados, quando chorou. "Sou uma pessoa que não desanima. Eu choro, me abato. Mas dura dois minutos. Aí, eu me recomponho e vou à luta", disse em entrevista a uma rádio popular. A prefeita licenciada defendeu um mandato de cinco anos para prefeito, sem direito à reeleição. Ela afirmou que o primeiro ano de governo é de avaliação e reavaliação. "Você tem de mudar todo o time", disse. "Se as pessoas acham que está indo bem, não tem de ter um ano perdido (com a troca do prefeito), tem é de ganhar um ano", disse. Marta recusou-se a falar sobre seu futuro político caso perca a eleição. "Seria doida de falar sobre isso", disse. A candidata disse que o tucano não teria chance de disputar a eleição sem o apoio do governador Geraldo Alckmin. Em entrevista à Rede Globo, afirmou que a tarifa de ônibus permanecerá congelada porque os gastos já estão previstos no orçamento do próximo ano. "Eu tenho como garantir, mas o outro candidato talvez não tenha", criticou. A petista voltou a falar que a participação da saúde no orçamento aumentou de 15% para 17% e que os recursos serão garantidos pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Criticou os tucanos e afirmou que Serra "sentou na cadeira antes de apurar o voto na urna". A prefeita evitou comentar a entrevista da jornalista Mônica Dallari, namorada do senador Eduardo Suplicy, à revista "Veja", com críticas a suas atitudes pessoais. No comitê, petistas ligados ao marido da prefeita, Luiz Favre, contam que ele reagiu com ironia à afirmação de que ele perde "em todos" os quesitos se comparado a Suplicy. "Como ela pode fazer uma comparação dessas sem me conhecer em todos os quesitos?", ironizou. Outros avaliaram que a intenção era atingir Marta, em vingança tardia. "Fazer uma entrevista daquelas a uma semana da eleição, com a namorada do senador atacando a Marta é de uma maldade atroz. O Suplicy é tido como muito bonzinho, mas sabe ser maquiavélico", reagiu um dos coordenadores da campanha. À noite, a prefeita participou de um ato político com artistas e intelectuais, que assinaram uma carta-manifesto de apoio. Participaram o o ministro da Cultura, Gilberto Gil, o presidente nacional do PT, José Genoino, e o senador Aloizio Mercadante. Sociólogos, atores como Sergio Mamberti, o jurista Dalmo Dallari, músicos André Abujamra, Dinho Ouro Preto e Edgard Scandurra, o historiador Carlos Guilherme Motta, a jornalista Marilene Felinto, a artista plástica Pinky Wainer, os escritores Mario Prata, Nirlando Beirão e Marta Góes, a psicanalista Maria Rita Kehl, o presidente da Radiobrás, Eugenio Bucci e o crítico Antonio Candido. (Com agências noticiosas)