Título: Câmara instala comissão para apurar acusações contra deputado do Rio
Autor: Henrique Gomes Batista e Janaina Vilella
Fonte: Valor Econômico, 26/10/2004, Política, p. A6

A Corregedoria da Câmara dos Deputados deve instalar, hoje, a comissão que investigará o deputado André Luiz (PMDB-RJ). Além do corregedor da casa - Luiz Piauhylino (PTB-PE) -, a deputada Iriny Lopes (PT-ES) e os deputados Antonio Carlos Mendes Thame (PSDB-SP), Ricardo Izar (PTB-SP) e Severiano Alves (PDT-BA) terão 30 dias para apurar o caso. O primeiro passo da comissão será a audiência com o deputado. Após a apresentação do relatório pela comissão da corregedoria, a mesa diretora da Câmara decide se o caso será encaminhado para a Comissão de Ética, que tem formalmente poder para pedir punições, inclusive a perda do mandato. O relatório da Comissão de Ética, por sua vez, precisa ser aprovado pelo plenário da casa para que o deputado sofra sanções. O deputado André Luiz disse ontem, em Brasília, que é inocente das acusações publicadas na revista "Veja". Segundo a reportagem, o deputado tentou extorquir R$ 4 milhões do bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, para livrá-lo da CPI da Loterj, instalada na Assembléia Legislativa do Rio (Alerj). "Quero saber onde estão essas fitas e quero que elas sejam periciadas", disse. Ele afirmou que abre mão de seu sigilo fiscal, telefônico e financeiro para a investigação dos deputados. "Eu não falei com ninguém, não conheço Carlos Cachoeira e estou sendo acusado de uma coisa que não cometi". Ele promete partir para o ataque contra a origem das acusações, que segundo ele, servem para descredenciar o trabalho da CPI. "Se não aparecer a pessoa (que originou a denúncia) vou partir para cima da 'Veja'", disse. André Luiz também afirmou que não procurou nenhum dos líderes do partido. "Estou há 29 anos no PMDB e acredito que eles é quem devem me procurar". O presidente da Alerj, deputado Jorge Picciani (PMDB), e os 12 membros da CPI da Loterj reagiram indignados às declarações atribuídas a André Luiz. A Comissão foi instaurada há seis meses para apurar a gestão do ex-assessor do Palácio do Planalto Waldomiro Diniz à frente da Loteria do Estado do Rio. Em reunião com líderes dos partidos, na Alerj, os deputados decidiram encaminhar ao presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), um ofício solicitando a investigação "rigorosa" das denúncias. Os parlamentares também decidiram, por sugestão do deputado estadual Alessandro Molon (PT), encaminhar outro ofício ao procurador geral da República, Cláudio Fontelles, pelo suposto envolvimento de um deputado federal no caso. Picciani confirmou que o relatório da CPI será votado hoje, numa sessão extraordinária no plenário da Alerj e, logo em seguida, encaminhado aos Ministérios Públicos Estadual e Federal. Durante as negociações, de acordo com as gravações divulgadas por "Veja", André Luiz contou aos emissários de Cachoeira que Picciani também fazia parte do esquema, mas teria interesses na área federal. Em sua defesa, Picciani informou que enviou um ofício ao ministro chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Luiz Dulci, solicitando que ele informe à Alerj, se em qualquer momento, desde a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, consta nos arquivos do governo federal qualquer solicitação ou nome sugerido pelo presidente da Alerj. "Estas providências me darão bases para mover ações judiciais adequadas contra o deputado André Luiz", afirmou Picciani. O presidente da CPI, deputado Alessandro Calazans (PV), também contestou as provas exigidas por emissários de Cachoeira para comprovar que André Luiz teria influência junto aos representantes da CPI. Eles exigiram que o depoimento de Cachoeira fosse tomado em Goiânia e não no Rio, que duas testemunhas escolhidas pelo bicheiro fossem convocadas para depor na CPI e que uma lista de perguntas previamente preparadas por Cachoeira fosse feita às testemunhas. As três foram cumpridas. "Qualquer convocado, na figura de testemunha, tem o direito de ser ouvido no seu domicílio". Calazans admitiu ter comparecido a dois churrascos na casa de André Luiz em Brasília, mas negou ter tido qualquer participação no suposto esquema de compra de votos dos membros da CPI.