Título: Comércio cresce apesar de petróleo caro; OMC prevê impacto em 2005
Autor: Assis Moreira
Fonte: Valor Econômico, 26/10/2004, Internacional, p. A7

A Organização Mundial de Comércio (OMC) revisou de 7,5% para 8,5% o crescimento real do comércio global este ano, apesar do forte aumento do preço do petróleo e de outras matérias-primas. Para a OMC, o impacto negativo da alta do petróleo está sendo compensado largamente por aumento do comércio e da produção na China, América Latina e África e recuperação mais forte do que prevista na Europa e no Japão. No ano que vem, será outra história. "O efeito da alta de petróleo geralmente ocorre um ano depois e se fará sentir sobre o comércio e a produção em 2005", diz Michael Finger, um dos principais economistas da OMC. A expansão do comércio mundial é significativa, comparado aos 4,5% de 2003, quando alcançou US$ 7,3 trilhões. A estimativa inicial da OMC, de 7,5% de crescimento do comércio em volume este ano levava em conta o preço do barril de petróleo a US$ 29. Agora, o calculo de 8,5% considera o barril a US$ 37, ainda bem abaixo do custo atual, de cerca de US$ 55. Para o diretor-geral da OMC, Supachai Panitchpakdi, além de bom crescimento em vários países, a forte demanda que está atrás da alta de óleo e outras commodities parece estar sendo igualmente sob controle. Na América Latina, o crescimento das exportações em dólar foi de 23% no primeiro semestre comparado a 9% no ano anterior. As vendas do Brasil aumentaram 31% em valor, em razão da alta das matérias-primas. A retomada econômica na Argentina também chama a atenção: suas importações cresceram 63% no primeiro semestre. A OMC estima que o comércio mundial cresceu 20% em valor no primeiro semestre, e a cifra pode se repetir no segundo. Os preços de energia, alimentos e bebidas continuam aumentado, enquanto se estabilizam os preços de matérias-primas agrícolas e metais. Técnicos da OMC notam que a China está procurando diversificar suas importações do óleo, passando agora a comprar também na América Latina, Canadá e outros países, apesar do preço em alta. A OMC prepara-se a divulgar nas próximas semanas relatório com as estatísticas completas do comércio mundial em 2003. Os dados mostram que o comércio cresceu mais que a atividade econômica na indústria de transformação, e continua expansão na agricultura. Mostram também que a América Latina, após 12 anos de sucessivos déficits, registrou saldo comercial em 2003, tendo a China como principal comprador. O comércio de químicos foi um dos mais dinâmicos, com aumento de 19% das exportações e representando quase 15% do comércio global de bens manufaturados.