Título: Brasil ganha espaço no comércio internacional
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 26/10/2004, Opinião, p. A8

O Brasil deve quebrar neste ano, pela segunda vez consecutiva, um verdadeiro tabu na área de comércio exterior, conseguindo elevar seu quinhão nos negócios mundiais de compra e venda de bens e serviços. Durante um longo período, o fluxo de comércio do país com o exterior teve um desempenho muito abaixo do resultado global. Em 2002, para ficar no exemplo mais recente dessa tendência, o comércio internacional teve um incremento bastante modesto, de apenas 3%, segundo as estatísticas da Organização Mundial do Comércio (OMC). O Brasil, porém, não conseguiu chegar nem perto disso: a soma de exportações e importações caiu 5,45%, em relação ao ano anterior, apesar do volume maior das vendas ao exterior. No ano passado, essa situação já melhorou, com o fluxo de comércio brasileiro crescendo mais do que o movimento de exportações e importações mundiais. Em 2004, esse movimento se acentuou. O Brasil está não apenas acompanhando o movimento expansionista do comércio mundial, mas deve crescer de forma ainda mais expressiva. De acordo com o relatório divulgado ontem pela OMC, o volume de comércio global deve aumentar 8,5% em termos reais até o final de 2004. O fluxo de comércio externo do Brasil, por sua vez, provavelmente terá um aumento superior a esse, da ordem de 29%. Segundo as últimas previsões do Ministério do Desenvolvimento, as exportações brasileiras devem passar de US$ 73 bilhões no ano passado para US$ 94 bilhões. As importações, de seu lado, tendem a aumentar de US$ 48 bilhões para US$ 62 bilhões. Essas estimativas governamentais são consideradas bastante plausíveis pelos especialistas já que até a semana passada as vendas externas totalizam US$ 76,9 bilhões e as compras, US$ 49,4 bilhões, acumulando saldo positivo de US$ 27,5 bilhões. A revisão da estimativa da OMC de 7,5% para 8,5% para o crescimento real do comércio global este ano, em si, representa já uma excelente notícia porque se contrapõe ao pessimismo provocado nos últimos meses pelo forte aumento do preço do petróleo e de outras matérias-primas. A retomada do crescimento da economia brasileira está, ainda agora, fortemente baseado no desempenho das exportações e a excelente performance do comércio mundial em 2004 pode ser considerada um indicador promissor também para os primeiros meses do próximo ano, embora se tema que em algum momento vai se pagar a conta da elevação do custo do petróleo. Há sérias dúvidas se o fluxo do comércio mundial terá condições de continuar a se expandir no segundo semestre de 2005 nos níveis atuais se o petróleo continuar pressionando os custos. Para a OMC, até agora o impacto negativo da alta do petróleo está sendo compensado largamente pelo aumento do comércio e da produção na China, América Latina e África e uma recuperação mais forte do que a prevista na economia da Europa e do Japão. A expansão do comércio mundial é significativa, comparado aos 4,5% de 2003, quando alcançou US$ 7,3 trilhões. A estimativa inicial da OMC, de 7,5% de crescimento do comércio em volume este ano levava em conta o preço do barril de petróleo a US$ 29. Agora, o calculo de 8,5% considera o barril a US$ 37, ainda bem abaixo do custo atual, de cerca de US$ 55. Na América Latina, o crescimento das exportações em dólar foi de 23% no primeiro semestre, comparado a 9% no ano anterior. As vendas do Brasil aumentaram 31% em valor, em razão da alta das matérias-primas. A retomada econômica na Argentina também chama a atenção: suas importações cresceram 63% no primeiro semestre. A OMC estima que o comércio mundial cresceu 20% em valor no primeiro semestre, e a cifra pode se repetir no segundo. Os preços de energia, alimentos e bebidas continuam aumentando, enquanto se estabilizam os preços de matérias-primas agrícolas e metais. Técnicos da OMC notam que a China está procurando diversificar suas importações de óleo, passando agora a comprar também na América Latina, Canadá e outros países, apesar do preço em alta. Os dados mostram que o comércio cresceu mais que a atividade econômica na indústria de transformação, e continua em expansão na agricultura. Mostram também que a América Latina, após 12 anos de sucessivos déficits, registrou saldo comercial em 2003, tendo a China como principal comprador.