Título: Boeing muda projeto para receber pedidos de 101 jatos para Gol
Autor: Vanessa Adachi
Fonte: Valor Econômico, 26/07/2005, Empresas &, p. B4

Aviação Cerca de 50 engenheiros trabalharam para fazer alterações aerodinâmicas e aumentar número de assentos

Para fechar o contrato de 101 jatos 737-800, no valor total de US$ 6,8 bilhões, para a Gol, a fabricante americana Boeing concordou em promover uma série de alterações aerodinâmicas no projeto original da aeronave. Num futuro próximo, o pacote de mudanças poderá ser oferecido a outros clientes, abrindo alguns novos mercados. "Agora mesmo nossos engenheiros estão finalizando os desenhos do pacote de mudanças de decolagem e pouso", disse John Wojick, vice-presidente da Boeing Commercial Airplanes para a América Latina, depois da cerimônia que marcou o fechamento do negócio. "As modificações permitirão pousar de decolar no aeroporto Santos Dumont, no Rio, um dos menores do mundo", disse Constantino de Oliveira Junior, presidente e controlador da Gol. Com as cinco alterações de projeto, o 737-800 conseguirá decolar e aterrissar na pista do Santos Dumont totalmente carregado. A pista tem apenas 1.200 metros e até agora a aeronave 737-800 só podia usar a pista se estivesse com carga reduzida. "A idéia partiu de nós e estamos trabalhando juntos", disse David Barioni, vice-presidente técnico da Gol. No total, a Boeing envolveu cerca de 50 engenheiros na fase de desenhos. As alterações foram necessárias porque a Gol preferiu o modelo 737-800, que carrega mais passageiros, ao 737-700. Nesse ponto, Barioni destacou que a Gol trabalhou com a fabricante para obter outra mudança de projeto. Originalmente, o projeto do 737-800 previa no máximo 175 lugares para a classe econômica. Para os aviões da Gol, o número de assentos já havia sido alterado para 177. Agora, os novos jatos virão com 178 lugares. "Pode parecer pouco, mas, com um assento a mais em cada um dos 101 aviões, ganharemos mais de meia aeronave", afirmou Barioni, destacando que a distância entre os assentos se manterá: 32 polegadas. Quanto ao pacote de mudanças aerodinâmicas para pouso e decolagem, o engenheiro Kenneth Hiebert, diretor regional de marketing de produtos da Boeing, explicou que a empresa em breve poderá oferecê-los a outros clientes. "Eles vão ganhar mercados com isso. Na Ilha da Madeira ou na região de fiordes na Europa, o 737-800 poderá operar", disse Barioni. Hiebert explica que, entre as cinco alterações no projeto, uma delas tornará o spoiler das asas - aquela parte que se levanta na hora do pouso - mais eficiente. "Os spoilers se levantarão mais rapidamente e terão um tamanho maior, facilitando a parada do avião." Em conjunto, as cinco modificações permitirão ao avião carregar 50% mais peso para um mesmo cumprimento de pista. A Boeing começou a trabalhar nisso no primeiro semestre do ano passado e deverá concluir tudo até janeiro de 2006. O primeiro dos 60 aviões de encomenda firme que integram o contrato de 101 aeronaves (41 são opções) será entregue em junho de 2006. A disposição da Boeing em mexer no projeto se justifica pela importância estratégica que a Gol ganhou, ainda mais quando traça planos para levar seu bem-sucedido modelo ao México. "Com esse pedido, a Gol passou a integrar um seleto grupo de clientes com pedido superior a 100 aeronaves, onde estão companhias como American Airlines, Continental, Delta e Ryanair", disse Wojick. Segundo ele, a Gol é hoje o maior cliente da empresa na América Latina, e o Brasil é o país mais importante na região. O pedido da Gol deixa a Boeing em condições de brigar com a rival Airbus pelo mercado latino-americano. "Recentemente, nosso competidor anunciou vendas para a Lan Chile, e para a TAM e a Gol é muito importante para nós", lembra o executivo. Diplomaticamente, ele evita afirmar que a Gol ocupou para a Boeing a posição que foi da Varig no passado. Mas a verdade é que a Varig não faz uma encomenda nova de jatos à Boeing desde meados da década de 90. A importância do mercado latino-americano para a fabricante americana não está tanto em seu tamanho - apenas 5% do mundial. Mas sim em sua taxa estimada de crescimento, de 5,9% nos próximos 20 anos, que só perde para os 7% projetados para a China. "Isso cria muitas oportunidades de negócios", afirmou Wojick.