Título: Governo dos EUA destaca força do Brasil no algodão
Autor: Mônica Scaramuzzo
Fonte: Valor Econômico, 26/07/2005, Agronegócios, p. B14
O Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) divulgou relatório no início deste mês qualificando o Brasil como um grande competidor no mercado mundial de algodão. A expansão da cultura no país, conforme ressalva o próprio relatório, está condicionada à melhoria da infra-estrutura logística. As projeções do USDA são de que as exportações brasileiras devem ficar em 435,4 mil toneladas na safra 2005/06, 21% mais que em 2004/05, volume que consolida o Brasil como quarto maior exportador mundial, atrás de EUA, Uzbequistão e Austrália. O aumento das exportações brasileiras ocorre, em parte, por conta do consumo estagnado no mercado interno, em torno de 900 mil toneladas por ano. Para a produção do Brasil em 2005/06, o órgão do governo americano projeta alta de 8,3%, de 1,306 milhão de toneladas em 2004/05 para 1,415 milhão. Mas, de acordo com o USDA, os problemas de infra-estrutura retardam a expansão da atividade no país. No Mato Grosso, maior Estado produtor, as parcerias entre a iniciativa privada e o governo são apontadas como alternativa para melhorar a infra-estrutura das estradas locais. O relatório relata que o único meio de escoamento do algodão mato-grossense até os portos é por meio das rodovias, muitas delas consideradas precárias. "Não há exageros no relatório", admite João Pessa, presidente da Ampa e conselheiro da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa). Segundo ele, a única estimativa exagerada é em relação à produção da safra 2005/06. Conforme o executivo, os produtores do Mato Grosso podem reduzir o plantio entre 15% e 20% caso não haja financiamento para insumos. A consultoria brasileira Safras&Mercado prevê que o plantio de algodão deverá recuar em todos os Estados produtores. "Nos últimos dois anos, os produtores tiveram problemas com o clima e preços baixos", afirma Miguel Biegai, analista da empresa. Os preços do algodão (posto usina) em São Paulo giram entre R$ 1,14 e R$ 1,16, com uma queda média de 28% sobre o mesmo período de 2004, segundo levantamento da Safras. Segundo Pessa, o Brasil só deverá avançar na produção de algodão a partir de 2006/07, com os cortes de subsídios que os Estados Unidos deverão implementar - e que ainda estão sujeitos à aprovação do Congresso americano. "Mesmo antes da disputa entre o Brasil e os EUA na Organização Mundial do Comércio [OMC], os EUA já viam o Brasil como grande competidor internacional". Para Pessa, a precária infra-estrutura logística brasileira prejudica a competição com os americanos. "Os EUA escoam a produção de algodão por hidrovias e ferrovias", diz. Os EUA exportam 3,15 milhões de toneladas por safra, bem mais que o segundo maior exportador, o Uzbequistão, que embarca 816,5 mil toneladas.