Título: Saldo positivo da conta corrente externa perde força com real forte
Autor: Alex Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 26/07/2005, Finanças, p. C2

O superávit da conta corrente externa do Brasil perdeu força pelo segundo mês seguido, refletindo o real mais valorizado, segundo os dados divulgados ontem pelo Banco Central. O resultado de junho, US$ 1,252 bilhão, é 38,05% menor do que os US$ 2,021 bilhões observados no mesmo mês de 2004. Os números parciais de julho, que cobrem até ontem, mostram a continuidade dessa tendência. "Já era de se esperar uma desaceleração no saldos em conta corrente", disse o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes. Ele lembra que a projeção do BC é um superávit de US$ 4,8 bilhões neste ano, enquanto o saldo acumulado nos 12 meses encerrados em junho é de US$ 12,609 bilhões. O saldo mais fraco em conta corrente se deve ao aumento do gasto com serviços e com o pagamento de lucros e dividendos. O comércio exterior continua a registrar resultados mais positivos do que em 2004, mas não em volume suficiente para compensar a expansão de gastos nas outras rubricas da conta externa. O déficit em serviços foi de US$ 1,017 bilhão em junho, alta de 92,6% em relação ao mesmo mês do ano anterior. No primeiro semestre deste ano, o saldo negativo em serviços chegou a US$ 3,538 bilhões, expansão de 94% em relação ao mesmo período de 2004. O item que tem mais pesado no aumento dos gastos com serviços é o aluguel de equipamentos - cujo déficit no primeiro semestre chegou a US$ 1,974 bilhão, alta de 106,48% em relação ao mesmo período de 2004. Outro item que registrou piora considerável são as viagens internacionais. Na visão do BC, os brasileiros estão viajando mais para o exterior em virtude do dólar mais barato e do aumento da renda real. No primeiro semestre de 2005, os dados do BC registram déficit de US$ 220 milhões, ante superávit de US$ 370 milhões no mesmo período de 2004. "Os gastos com serviço têm dinâmica bastante vinculada à atividade econômica e às importações", explica Lopes. Os dados parciais de julho, que cobrem até o dia 25, mostram déficit de US$ 142 milhões em turismo. Seguindo tendência dos meses anteriores, as remessas de lucros e dividendos registraram forte aumento em junho: chegaram a US$ 1,047 bilhão, ante US$ 370 milhões no mesmo mês de 2004. As remessas líquidas nessa rubrica chegaram a US$ 6,117 bilhões no primeiro semestre, numa expansão de 69,54% em relação ao mesmo período de 2004. O BC aponta três motivos para o aumento das remessas: maior nível de atividade econômica; dólar mais desvalorizado, o que engrossa os lucros obtidos em reais na sua conversão; e aumento do estoque de capitais estrangeiros neste ano em relação a 2004, em virtude também da valorização da moeda nacional. Nos dados de julho, porém, as remessas dão sinal de perda de vigor: somam US$ 441 milhões até o dia 25. "Os números mostram uma certa acomodação", disse Lopes. "É natural. As empresas têm que gerar lucros para remetê-los", continuou, apontanto que atualmente a lucratividade é menor. O comércio exterior continuou a mostrar vigor em junho, impedindo uma queda ainda maior no saldo em conta corrente. O superávit acumulado em junho foi de US$ 4,030 bilhões, expansão de 6% em relação ao mesmo mês do ano anterior. Também ajudou a queda dos pagamentos de juros da dívida externa, que ficaram em US$ 6,543 bilhões no primeiro semestre, queda de 4,65% em relação ao mesmo período de 2004. As transferências unilaterais - dinheiro remetido ao Brasil por residentes no exterior e vice-versa, sem relação comercial ou financeira - ficaram em US$ 1,683 bilhão no semestre, o que representa uma expansão de US$ 82 milhões em relação ao mesmo período de 2004. Para julho, a tendência de queda do superávit em conta corrente deve se manter: o BC estima saldo de US$ 1,2 bilhão, ante US$ 1,807 observado em julho de 2004. O superávit em conta corrente relativo ao Produto Interno Bruto (PIB) vem caindo desde maio. Passou de 2,19% para 2,01% do PIB entre abril e maio e, em junho, chegou a 1,86% do PIB.