Título: Contas de Valério têm R$ 476 milhões sem identificação
Autor: Mauro Zanatta, Sergio Leo e Daniel Rittner
Fonte: Valor Econômico, 27/07/2005, Política, p. A8

Dados em poder da CPI Mista dos Correios mostram que apenas em três empresas de Marcos Valério Fernandes de Souza, acusado de operar o pagamento do " mensalão " a parlamentares da base do governo, foram movimentados no Banco Rural R$ 476,7 milhões em recursos de origem desconhecida e destinação ignorada entre 2003 e o primeiro trimestre deste ano. Pela primeira vez, começaram a chegar informações sobre a origem do dinheiro depositado nas contas das empresas de Marcos Valério. Os primeiros depositantes identificados são empresas de telefonia que têm como controlador comum o grupo Opportunity, do banqueiro carioca Daniel Dantas: a Telemig (com R$ 35,3 milhões), a Amazônia Celular e a Brasil Telecom.

A abertura de documentos enviados pelo Banco do Brasil, em duas contas da DNA, revelou depósitos também da construtora Norberto Odebrecht, da Eletronorte, da Fiat Automóveis, de secretarias do governo de Minas Gerais.

No Banco do Brasil, as empresas DNA, SMP & B e Grafitti movimentaram um volume de recursos ainda maior que no Banco Rural - R$ 534,3 milhões -, mas essas transações preocupam menos os parlamentares porque haveria documentos e comprovantes para explicar as operações. " É um volume enorme de dinheiro no Rural que não sabemos de onde veio nem para onde foi " , afirmou o deputado Onyx Lorenzoni (PFL-RS). Como além de incompletos, há dados aparentemente adulterados, os parlamentares devem decidir hoje o envio de diligências policiais para requisição de documentos no Banco Rural.

A CPI dos Correios já havia identificado os beneficiários de mais de R$ 26 milhões, que sacaram os recursos no Rural. Entre essas pessoas estão políticos, parlamentares, assessores, parentes e servidores públicos como policiais civis em Minas Gerais.

O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) informou foram encontrados documentos que comprovariam saques de R$ 11,8 milhões sem identificação, nos últimos cinco anos, das contas da DNA e da SMP & B. " Não vieram os cheques nem os RGs dos sacadores " , estranhou.

A ciranda financeira das empresas de Valério não terminou por aí. A SMP & B fez transações que somam R$ 96,2 milhões no Banco de Brasília e R$ 3,255 milhões no Bradesco. Há ainda um empréstimo de R$ 2,4 milhões no BMG, que teve como beneficiário o PT, conforme as investigações já haviam detectado.

Os parlamentares querem que a DNA comprove que os recursos recebidos foram compatíveis com os serviços prestados. As informações serão cruzadas com notas fiscais dadas pela agência de publicidade. " A investigação terá que detectar se o pagamento efetuado é compatível com o serviço ou se é para esquentar dinheiro " , reagiu a senadora Ideli Salvatti (PT-SC). " Vamos exigir as notas fiscais, checar todos os serviços e fazer um encontro de contas " , completou o deputado ACM Neto (PFL-BA).

No fim do depoimento de ontem, o presidente da CPI, senador Delcídio Amaral (PT-MS) se mostrou preocupado com o vazamento desordenado de informações da comissão. " Não vou permitir a divulgação de saques que se confundem com transferências, ilações perigosas. Não podemos colocar em risco o sistema financeiro " , disse, irritado.

Ele afirmou que hoje os membros da comissão analisarão o assunto. " Vamos tratar inclusive das informações do Banco Rural, que está com problemas nos dados " , disse. Ele afirmou que a economia começa a ser contaminada por informações eerrôneas.

" Na semana passada informaram saques de R$ 50 milhões do Banco do Brasil, enquanto na verdade se tratava de trasnsferências. Não podemos permitir isso, dados sem provas e factóides " , disse o presidente da CPI dos Correios, senador Delcídio Amaral.