Título: Irã ataca as potências
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Fonte: Correio Braziliense, 18/04/2010, Mundo, p. 26

Conferência internacional em Teerã serve de palanque para o regime islâmico propor que os detentores de armas atômicas sejam suspensos da agência da ONU para o tema

Diante de representantes de 60 países, segundo contabilizou o governo iraniano, o presidente Mahmud Ahmadinejad defendeu ontem em Teerã a criação de ¿um organismo internacional independente¿ com a missão de ¿supervisionar o desarmamento nuclear e impedir a proliferação¿. Na abertura de uma conferência convocada como resposta à cúpula sobre segurança nuclear organizada pelos Estados Unidos na semana passada, Ahmadinejad propôs também que ¿os países que possuem armas nucleares, os que as tenham utilizado ou ameacem utilizá-las¿ sejam suspensos da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), da ONU.

A ¿contraconferência¿ de Teerã, como chegou a ser chamada, foi organizada pelo regime islâmico como parte de sua ofensiva diplomática para evitar que o Conselho de Segurança (CS) da ONU aprove mais uma rodada de sanções contra seu programa nuclear. Os Estados Unidos e seus aliados europeus suspeitam de que o Irã pretenda construir a bomba atômica e exigem que o país congele o enriquecimento de urânio. Em um balanço inicial sobre o encontro, o governo iraniano afirmou que, entre os países presentes, ¿sete ou oito¿ estariam representados por seus chanceleres. O Brasil, que ocupa uma vaga não permanente no CS e se opõe às sanções, participa com seu embaixador em Teerã. Rússia e China, membros permanentes que relutam em aprovar punições, estariam representadas pelos vice-chanceleres.

Ahhmadinejad apontou os países detentores de armas nucleares como principal obstáculo à não proliferação, e concentrou os ataques sobre os EUA, que protagonizaram o único ataque atômico jamais realizado ¿ contra as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, em 1945. ¿O governo americano tanto usou (as armas) como oficialmente voltou a ameaçar usá-las¿, acusou, referindo-se à política recém-anunciada pelo presidente Barack Obama ¿ ela contempla retaliação nuclear contra países que também disponham da bomba. Para o governante iraniano, países detentores de armas nucleares deveriam ser excluídos do processo de revisão do Tratado de Não Proliferação (TNP), que proíbe os signatários de desenvolver armas, mas também prevê a desmontagem dos arsenais existentes.

O presidente iraniano criticou duramente o poder de veto exercido pelas cinco potências nucleares oficiais ¿ EUA, Rússia, Reino Unido, França e China ¿ no Conselho de Segurança. ¿Se os que possuem e usam essas armas dispõem do poder desigual de veto no mais elevado organismo responsável pela segurança mundial, isso não encoraja os demais países a obtê-las também, para garantir a própria segurança?¿, questionou. Ahmadinejad defendeu a extinção do poder de veto, ou a sua extensão a ¿outros países da América Latina, Ásia, África e Europa¿.

O Irã, como o Brasil, é signatário do TNP e garante que seu programa nuclear tem fins exclusivamente civis. Em mensagem dirigida à conferência de Teerã, o líder religioso supremo do país, o aiatolá Khamenei, referiu-se aos EUA como ¿criminosos nucleares e mentirosos¿, e reafirmou um decreto religioso pelo qual vetou, como pecado, a produção, o armazenamento e o uso de armas atômicas pelo Irã.