Título: Denúncias contra Eduardo Azeredo incomodam o PSDB
Autor: Henrique Gomes Batista e Ivana Moreira
Fonte: Valor Econômico, 27/07/2005, Especial, p. A12

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) afirmou ontem, em São Paulo, que o suposto envolvimento do empresário Marcos Valério de Souza com o financiamento da campanha de reeleição ao governo de Minas do correligionário Eduardo Azeredo, em 1998, deve ser investigado. Mas argumentou que é preciso não perder o foco de que a crise é de hoje. "Queremos apuração e não confusão", disse FHC. "Precisamos passar o Brasil a limpo e temos de investigar tudo, mas sem perder o foco". Para o ex-presidente da República, o que aconteceu no passado, no seu governo, "é coisa da história". O repasse de recursos pela SMP&B para pelo menos 70 aliados do então governador de Minas Eduardo Azeredo, durante a campanha para sua reeleição, foi denunciado na edição de ontem do jornal "O Globo". De acordo com a reportagem, o esquema foi semelhante ao arquitetado para o PT por Marcos Valério, envolvendo inclusive empréstimos bancários. A DNA, outra agência de Marcos Valério, pegou um empréstimo de R$ 11,7 milhões junto ao Banco Rural, em agosto de 1998, dando como garantia receitas de contratos de publicidade com o governo estadual. No mesmo período, a SMP&B teria repassado R$ 1,6 bilhão para deputados estaduais e federais e prefeitos da coligação encabeçada pelo governador tucano. Atual presidente do PSDB, o senador Eduardo Azeredo rebateu ontem as acusações de que tenha utilizado recursos irregulares das empresas de Marcos Valério na campanha para reeleição, na qual foi derrotado. Segundo Azeredo, suas contas foram aprovadas pela Justiça Eleitoral e é descabido que se busque misturar situações antigas resolvidas na forma da lei. "O PSDB não vai aceitar o abraço do afogado", declarou. Os governistas, contudo, exploraram o episódio, inclusive durante o depoimento da mulher de Valério, Renilda. "Corrupção não é como iogurte, não tem validade", rebateu o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP). "Temos que investigar a fundo, com o mesmo espaço de defesa dado às atuais denúncias, mas a matéria de 'O Globo' deixa claro de que esse padrão de conduta das empresas do senhor Marcos Valério já ocorria desde 1998, nos financiamentos das campanhas do PSDB e do PFL", acrescentou ele. O senador Eduardo Azeredo utilizou ontem o plenário da casa para rebater as denúncias. "Não me sinto constrangido em continuar à frente do PSDB, pois tudo já foi apurado e estas transações não têm nada a ver com nenhuma CPI, não vou aceitar ilações ou hipocrisia", afirmou. Ele disse ainda que as acusações são parte de uma estratégia petista. "Ligar operações feitas entre agência de publicidade e instituição financeira, sem participação do então candidato ou do partido, são tentativas condenáveis de desviar o foco da investigação de denúncias evolvendo o governo federal e os partidos aliados.", argumentou o senador. O governador de Minas, Aécio Neves, evitou se estender sobre as denúncias sobre irregularidades no financiamento da campanha de Azeredo. "O senador Eduardo Azeredo irá, certamente, dar as explicações necessárias em relação a essa questão", restringiu-se a comentar ontem, em Belo Horizonte. Na semana passada, Aécio havia declaro que as denúncias sobre saques irregulares passariam "a léguas" de distância do PSDB. Vice na chapa de Azeredo em 1998 e atual vice-governador do Estado, o empresário Clésio Andrade foi sócio na SMP&B até antes do início da campanha eleitoral de 1998. Em entrevistas, ele disse que decidiu vender sua parte na sociedade justamente por causa das suas pretensões eleitorais. A SMP&B ficou de fora das contas do governo de Minas durante a gestão de Itamar Franco (PMDB), de 1999 e 2002. Voltou com a eleição de Aécio Neves em 2003 e abocanhou R$ 12 milhões. O contrato foi suspenso há duas semanas por recomendação do Ministério Público Estadual. (Com agências noticiosas)