Título: Brasil já é 3º maior emissor do mundo
Autor: Janes Rocha
Fonte: Valor Econômico, 27/07/2005, Finanças, p. C8

Cartões Volume financeiro subiu 29% no semestre, para R$ 97 bi; plásticos de débito são os que mais crescem

A base de cartões no Brasil já se aproxima de 300 milhões de plásticos. Mais precisamente, são 297 milhões de unidades - cerca de 1,7 cartão por habitante - contando os de débito (153 milhões), os de crédito com bandeira (55 milhões) e os de lojas (89 milhões), de acordo com balanço divulgado ontem pela Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs). O Brasil já tem a terceira maior base de cartões de débito e crédito do mundo, depois dos Estados Unidos e da China, considerando apenas os 192 milhões de cartões Visa e MasterCard. Segundo a Abecs, a comparação com o mercado internacional só é possível a partir das duas bandeiras, presentes em quase todos os países. Entre janeiro e junho de 2005, o volume financeiro do mercado doméstico de cartões atingiu R$ 97 bilhões, 29% mais que no mesmo período do ano passado. A Visa e a MasterCard responderam por R$ 62,6 bilhões deste total. Para Jair Scalco, presidente da Abecs, a estabilidade econômica e um maior nível de renda da população explicam em parte a expansão do mercado de cartões. Mas ele destaca que "a base de cartões vem crescendo pelas facilidades que proporcionam aos usuários", além do crescimento e interiorização da rede de aceitação no comércio. O mercado que mais cresce é o de cartões de débito, impulsionado pela bancarização da população de baixa renda (o número de contas correntes já se aproxima de 90 milhões). O número de cartões de débito em circulação cresceu 28% este ano, com um movimento financeiro de R$ 29 bilhões no primeiro semestre, 47% maior em comparação com o mesmo período de 2004. Para Antonio Luiz Rios da Silva, diretor de Marketing da Abecs, os números do débito poderiam ser até maiores: "Esta é uma modalidade que a população ainda está aprendendo a usar", afirmou. Segundo ele, "existem muitos plásticos nas mãos das pessoas mas muito poucas usam em compras", apenas para saques bancários. Os cartões distribuídos pelas redes de varejo - os chamados "private label" - também apresentam forte expansão, atingindo 89 milhões de plásticos em circulação ao final de junho, comparado a 77 milhões no primeiro semestre de 2004, um crescimento de 16%. Os titulares dos "private label" das lojas movimentaram R$ 10 bilhões em compras no primeiro semestre, 18% mais que no mesmo período do ano anterior. De acordo com os dados da Abecs, o valor médio de compras com cartões ficou em R$ 53,97 este ano, contra R$ 53,34 no primeiro semestre do ano passado. Na modalidade crédito, o gasto passou de R$ 66,76 para R$ 68,31. No débito, foi de R$ 39,41 para R$ 40,67 e nos cartões de loja, de R$ 36,36 para R$ 42,55. A Abecs ainda não calcula o índice de inadimplência. Mas Scalco citou dados do Banco Central que mostram um índice de 19% de inadimplência a partir de 90 dias. O dado refere-se apenas às pessoas que entraram para o crédito rotativo no cartão, a modalidade que apresenta taxas de juros mais elevadas depois do cheque especial. Questionado sobre o motivo de taxas tão altas, Scalco disse que o cartão é a modalidade de crédito com a menor garantia entre todas as linhas de financiamento a pessoas físicas. Segundo ele, alguns bancos já começam a aplicar taxas mais reduzidas de juros no cartão para grupos selecionados de clientes onde é possível avaliar o risco de crédito com mais precisão. Sobre fraudes nas operações com cartões, Scalco disse que a estimativa é de que elas atingem apenas 0,1% do volume de transações, o que é considerado um "patamar razoável". "Em cada mil transações, apenas uma é fraudada", minimizou. Ao final de seu mandato de dois anos à frente da Abecs, Scalco anunciou ontem o lançamento de um manual de orientação ao usuário de cartões e uma reforma do site da entidade, que reúne 26 empresas entre administradoras, emissoras, bandeiras, credenciadoras e processadoras de cartões.