Título: Pesquisa revela estoque alto e demanda fraca
Autor: Catherine Vieira
Fonte: Valor Econômico, 28/07/2005, Brasil, p. A4
Conjuntura Pessimismo cresce, mas sondagem da FGV indica maior utilização da capacidade instalada
O quadro de desaceleração da atividade atual e de preocupação com a demanda futura ficaram mais evidentes para a indústria de transformação em julho, segundo revelou a sondagem conjuntural do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre-FGV) com 930 empresas do setor. De acordo com a pesquisa, subiu de 16% em abril para 27% em julho o percentual de empresas industriais que apontam como fraco o nível da demanda. Por outro lado, caiu de 15% para 14% o percentual das que acreditam que a demanda está forte. A diferença, negativa em 13 pontos percentuais, é a maior apurada pela pesquisa desde julho de 2003. O desaquecimento da economia também afetou os estoques. A parcela de empresas que afirmou estar com estoques excessivos saltou de 10% em abril para 14% em julho, registrando também a maior diferença em pontos percentuais desde julho de 2003. A demanda continua sendo apontada como o maior fator de limitação para a produção por 25% das empresas, mesmo dado apurado pela última sondagem, em abril. Um outro dado que chama a atenção na sondagem é o impacto mais nítido e acelerado do câmbio sobre a demanda externa e a percepção de que esse quadro não deve melhorar. Em abril, o nível de encomendas do mercado externo era considerado forte por 27% dos empresários e em julho esse mesmo índice caiu para 12%. Também em abril, 12% consideravam fracas as encomendas, percentual que elevou-se para 24% em julho. A diferença, negativa em 12 pontos, é a pior já apurada desde janeiro de 2002. Pelo lado das projeções para o próximo trimestre, enquanto 49% dos empresários acreditam que a demanda interna vai melhorar, apenas 36% apostam numa expansão da demanda externa. Os números da sondagem de julho confirmam um período de desaquecimento que vem ocorrendo, embora em ritmo mais lento, iniciado após outubro de 2004, quando vários indicadores da sondagem atingiram os melhores níveis históricos. De acordo com o economista do Ibre, Aloisio Campelo, no entanto, os números não entraram no terreno negativo e ainda estão próximos das médias históricas dos últimos anos. "Os efeitos do ciclo anterior de aperto monetário que se refletiram em 2003 provocaram um desaquecimento muito mais forte", disse. Para o professor da FGV Samuel Pessoa não existe um risco de recessão no horizonte. "O que estamos verificando é que, ao contrário do que alguns apontam, o Brasil é um país como todos os outros no qual é possível obter sucesso em desaquecer a economia com redução da demanda, por meio da condução da política monetária", avaliou. No entanto, a percepção dos empresários sobre a situação atual dos negócios continua se deteriorando. Subiu dez pontos percentuais e já chega a 29% a parcela dos que avaliam a situação atual como fraca. Por outro lado, o nível de utilização da capacidade instalada, com ajuste sazonal, alcançou 84,5%, praticamente estável em relação aos 84,3% de abril. Campelo destacou ainda que nos dados abertos por setor da indústria, é possível verificar que o setor de bens de consumo, por exemplo, vem demonstrando crescente aumento da utilização da capacidade, cujos níveis cresceram de 80,3% em janeiro para os atuais 82,3% (com ajuste sazonal). Um dos motivos para isso na avaliação de Campelo pode ser a grande expansão dos segmentos de crédito consignado e pessoal, de forma geral. Pelo lado das projeções, o quadro é um pouco mais favorável. A sondagem mostrou que 44 % dos empresários disseram esperar melhora para os próximos seis meses, o que é um número ainda alto, embora abaixo dos 46% que projetavam melhora na sondagem do trimestre anterior. Para 17%, a situação vai piorar. Em abril, data da última sondagem, a parcela dos que esperavam piora era de 11%. Outro ponto revelado pela pesquisa é que a crise política não afetou as previsões empresariais. Na avaliação dos economistas da FGV, de acordo com os números apurados, eles se basearam apenas na condução da política econômica na hora de fazer projeções.