Título: Tucanos temem que afastamento equipare Azeredo a Genoino
Autor: Raymundo Costa
Fonte: Valor Econômico, 28/07/2005, Política, p. A5

O afastamento do senador Eduardo Azeredo (MG) da presidência do PSDB é uma hipótese efetivamente considerada entre dirigentes tucanos, mas ainda divide a legenda. Os partidários da licença avaliam que o afastamento temporário preservaria o partido e o próprio Azeredo, mas os defensores de sua permanência alegam que isso só daria discurso ao PT, que poderia então dizer que, assim como aconteceu com José Genoino, o PSDB também teve de afastar seu presidente, equiparando situações que são diferentes na prática. A seção mineira do PSDB, a mais ardorosa defensora da permanência de Azeredo, não hesita em apontar o dedo para os tucanos paulistas, nos quais acredita detectar uma certa "satisfação" com as dificuldades enfrentadas pelo PSDB de Minas, porque isso poderia mais adiante retirar o governador Aécio Neves da disputa interna para a escolha do candidato a presidente. De acordo com aliados de Aécio, seria uma precipitação, de vez que Aécio na realidade é candidato à reeleição em Minas e o que quer, no momento, é ter peso na escolha do candidato do PSDB. Presidente licenciado do partido, o prefeito de São Paulo, José Serra, evita comentar a situação de Azeredo, de quem é amigo pessoal. Até recentemente considerado o candidato natural do PSDB à sucessão de Lula, o governador Geraldo Alckmin, também evita publicamente o assunto. Mas é certo que entre seus aliados aliados o assunto já é discutido. Na prática, mesmo os tucanos mineiros acham que Azeredo deve explicações imediatas. O governador Aécio Neves, que não é propriamente ligado a Azeredo, se limitou a dizer que ele daria as explicações necessárias. Mesma posição do líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM). Outro cacique tucano, o senador Tasso Jereissati (CE), que se encontra em viagem à Rússia, é contrário ao afastamento do senador mineiro. Os paulistas avaliam que Azeredo deveria se afastar para se preservar e preservar a legenda. O argumento é que o senador não deveria ir depor na CPI como presidente do partido. É que não há a menor dúvida, entre os tucanos, que o PT tentará de todas as formas arrastar o PSDB para o centro da crise que envolve o governo e o partido, o que inevitavelmente causaria desgaste aos tucanos e ao próprio Azeredo, por mais que ele mais adiante consiga dar explicações satisfatórias para a participação do empresário Marcos Valério em sua campanha à reeleição, em 1998. No PSDB, a convicção é a de que o vice-governador de Minas Gerais, Clésio Andrade, e o vice presidente José Alencar, ambos do PL, estariam por trás da divulgação de documentos que demonstram a participação de Marcos Valério no segundo turno da eleição mineira de 1998, que Azeredo disputou com Itamar Franco (PMDB) e perdeu. Em Minas, tucanos ligados a Azeredo dizem que Marcos Valério efetivamente contribuiu com recursos, mas por meio de Clésio Andrade, que fora sócio do empresário na agência de publicidade SMP&B. Azeredo não teria tomado conhecimento do esquema. "Estamos convencidos de que há uma articulação nacional no sentido de tentar envolver - mesmo que por caminhos tortos e falsas verdades - o PSDB no conjunto da crise", disse o presidente do partido em Minas, Nárcio Rodrigues, por meio de nota oficial. Além disso, os tucanos alegam que há uma diferença fundamental: Marcos Valério "financiava o PT com recursos de empresas públicas", como afirma nota divulgada ontem pelo partido; a campanha de Azeredo teria recebido doações individuais, não haveria uma relação institucional do empresário e suas agências com o PSDB. Ontem, o prefeito José Serra afirmou que "o impeachment é muito sério para se discutir à luz de conveniências eleitorais. Mas se me perguntassem do ponto de vista estrito eleitoral, se para a oposição, para aqueles que querem mudar o Brasil, seria muito bom ter o presidente Lula como adversário, eu diria que sim".(Com agências noticiosas)