Título: PF investiga sociedade entre Rural e doleiro
Autor: Mauro Zanatta
Fonte: Valor Econômico, 28/07/2005, Política, p. A6

Investigações da Polícia Federal trouxeram à tona mais uma possível ligação do Banco Rural com o empresário Marcos Valério de Souza, desta vez envolvendo lavagem de dinheiro e remessa ilegal para o exterior. Documentos revelaram que o doleiro Haroldo Bicalho - cujo nome está registrado na agenda da secretária Fernanda Karina Somaggio e que é amigo do presidente da agência SMP&B, Cristiano Paz - era sócio, até o fim de 2004, do Rural na RS Empreendimentos e Participações. A suspeita da Polícia Federal é de que a empresa é fachada de uma lavanderia utilizada por Marcos Valério. Haroldo Bicalho foi um dos doleiros presos pela PF no ano passado, na operação Farol da Colina. Além do Rural, que detém 51% do capital através da Rural Seguradora S/A, e do doleiro, também tem participação no negócio o grupo mineiro Seculus, através da Seculus da Amazônia S/A Jóias e Relógicos. A assessoria de imprensa do banco mineiro confirmou ontem a sociedade na empresa que teria sido criada em 1997 para compra e venda de ativos financeiros e imobiliários. A empresa argumenta, entretanto, que Haroldo Bicalho foi sócio minoritário, sem nenhuma participação na gestão do negócio. Apesar do capital social registrado de R$ 8,1 milhões e um lucro de R$ 2 milhões apurado no ano passado, a sede da empresa fica num imóvel desocupado no pequeno munícipio de Alfredo Vasconcellos, no interior de Minas. A assessoria do banco informou ontem que a escolha da cidade para sede da empresa foi devido à alíquota do ISSQN local. No início do mês, cinco executivos e um ex-diretor do Rural foram denunciados pelo Ministério Público Federal por gestão fraudulenta e formação de quadrilha, acusados de participarem de uma esquema para evasão de divisas. A denúncia foi acatada pela Justiça e os executivos terão de responder ao processo. A ameaça de uma diligência policial e a preocupação com os danos na imagem do Banco Rural levaram executivos da instituição a se reunirem, ontem, com parlamentares da Comissão Parlamentar de Inquérito dos Correios. Em reunião com o presidente da CPI, Senador Delcídio Amaral, e o relator, Osmar Serraglio, executivos e o advogado do banco, José Carlos Dias, garantiram que a instituição respondeu a todos os pedidos encaminhados pela , e puseram à disposição da CPI dois funcionários para satisfazer as dúvidas do Congresso. Ontem, também, o ex-tesoureiro do Banco Rural em Brasília, José Francisco Rêgo, foi à Polícia Federal para ajudar os delegados a identificarem os faxes com o registro dos sacadores das contas de Marcos Valério Diplomáticos, Amaral e Serraglio afirmaram que houve problemas de "interpretação técnica" nos pedidos encaminhados pela CPI, que levaram o banco a enviar apenas parte das movimentações financeiras das empresas do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza. Amaral afirmou que espera ter, até a semana que vem, à identificação de todos os depósitos e retiradas de dinheiro nas contas de Valério no Rural. "O Banco Rural interpretou os pedidos de informação de depósitos de maneira muito específica", comentou Delcídio Amaral. "Não considerou como depósito as transferências entre bancos e outras operações entre instituições financeiras." O advogado José Carlos Dias teve reuniões também com o ministro da Justiça, Márcio Thomas Bastos, e o presidente do Supremo Tribunal federal, Nélson Jobim, e prometeu "absoluta transparência". "A intenção é prestar todos os esclarecimentos, doa a quem doer", afirmou, reconhecendo que as acusações afetam a imagem do banco. "O banco vive de sua imagem, de credibilidade", comentou, recusando-se a comentar os danos já sofridos pelo banco pelas denúncias. (Colaborou Thiago Vitale Jayme, de Brasília).