Título: Valério avalizou empréstimo de Pimenta
Autor: Mauro Zanatta
Fonte: Valor Econômico, 28/07/2005, Política, p. A6

Dados em poder da CPI Mista dos Correios revelam uma estreita ligação entre o ex-ministro das Comunicações no governo Fernando Henrique Cardoso, Pimenta da Veiga, e o empresário Marcos Valério de Souza, acusado de ser o operador do mensalão. Um contrato de mútuo em poder do Valor comprova que Pimenta fez um empréstimo no Banco BMG de R$ 152.045,00, onde figura como devedor. Marcos Valério e sua esposa, Renilda Maria Santiago, aparecem como devedores solidários. O contrato foi firmado em 31 de março de 2004 e tem com garantia uma nota promissória de R$ 195 mil, onde Pimenta é o emitente e Valério e Renilda são avalistas. "Isso é algo novo, demonstra uma relação além da prestação de serviços de advogado que o ex-ministro diz ter feito e que teria garantido o recebimento de R$ 150 mil. Temos que investigar a fundo", afirmou o deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP). O ex-ministro negou veementemente qualquer irregularidade, e disse que esse mútuo se refere à prestação de serviços advocatícios à SMP&B. "A empresa sempre foi considerada uma das mais sérias de Minas Gerais e parte do valor da prestação do serviço foi transformado neste mútuo, que foi pago em uma parcela de R$ 20 mil e outras dez de R$ 17,3 mil, a última vencendo no início deste ano", afirmou o ex-ministro tucano. Para ele, o PT quer tirar o foco das investigações. "Não interessa ao PT apurar tudo a fundo", disse. A Polícia Federal já tem pistas de quem são os recebedores dos saques realizados pela ex-funcionária de Marcos Valério na SMP&B, Simone Vasconcelos, onde estaria a prática do mensalão. Dezenas de saques realizados por ela constituem uma base de informações importante na documentação apreendida na sede do Banco Rural, em Belo Horizonte. Em depoimento à Polícia Federal, no dia 1º de julho, ela relatou que fazia o saque e distribuía o dinheiro na agência do Rural em Brasília. A Polícia Federal quer ir atrás de novas provas não-documentais para descobrir quem recebia o dinheiro das mãos de Simone. As transações da ex-funcionária são muito suspeitas. Em algumas ocasiões, ela embarcava em um avião em Belo Horizonte rumo a Brasília, visitava a agência, distribuía o dinheiro e voltava. Quando a retirada era feita por Simone, só aparece a identificação dela como sacador. Porém, em alguns faxes, ela fazia anotações atrás dos papéis para organizar melhor a distribuição. Em um desses consta o nome do deputado Carlos Rodrigues (PL-RJ), escrito de próprio punho pela ex-funcionária da SMP&B. Depois de três dias de expectativas - inclusive com repercussão no mercado financeiro -, a avaliação dos dados sobre saques em contas das empresas de Marcos Valério Souza frustrou a previsão de que haveria grandes revelações que poderiam ajudar na investigação da existência do mensalão. Alguns parlamentares, num primeiro momento, chegaram até a suspeitar de que tivesse havido supressão de nomes das listas. "Não acredito que houve nenhum tipo de perda de documentos até chegar à CPI", disse o senador Álvaro Dias. O senador e outros integrantes da CPI de partidos de oposição estão suspeitando mais da existência de uma nova estratégia do governo, que é a de inflar expectativas para depois mostrar que não há nada, do que na supressão de dados. "Foi uma estratégia bem arquiteta pelos advogados que orientam o Marcos Valério, principalmente dos que orientaram a transferência do inquérito contra o empresário de Belo Horizonte para Brasília", disse, em uma referência ao ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, que tem sido apontado como o orientador geral do governo e dos advogados de governistas no caso.