Título: Opportunity depositou R$ 127 milhões para a DNA
Autor: Mauro Zanatta
Fonte: Valor Econômico, 28/07/2005, Política, p. A6

A quebra de sigilo das empresas de Marcos Valério Fernandes de Souza, acusado de operar o pagamento de mensalão a parlamentares no Congresso, revelou depósitos de R$ 127,2 milhões feitos pelas operadoras de telefonia Telemig Celular, Amazônia Celular e Brasil Telecom, administradas pelo banco de investimentos Opportunity, do empresário carioca Daniel Dantas. O dinheiro foi depositado em várias contas da DNA Propaganda no Banco do Brasil.

" Os vínculos de Daniel Dantas com as empresas de Marcos Valério devem levar a CPI a convocá-lo muito em breve para explicar esse volume expressivo de depósitos " , afirmou o senador Alvaro Dias (PSDB-PR).

Os dados, em poder da CPI Mista dos Correios, mostram ainda depósitos de R$ 8,25 milhões feitos pela Fiat Automóveis, R$ 44,217 milhões em nome da Companhia Brasileira de Meios de Pagamento, R$ 7,94 milhões da Centrais Elétricas do Norte (Eletronorte), R$ 6,454 milhões da Servinet Serviços, de R$ 400,4 mil da Construtora Norberto Odebrecht, R$ 211,3 mil da Mineração Morro Velho, entre outros. Há também vários depósitos feitos por secretarias e coordenações do governo de Minas Gerais. Os dados da CPI revelaram ontem a existência de um cheque de R$ 6.110,00 do PT em favor da empresa MultiAction Entretenimentos, de propriedade de Marcos Valério. O documento, emitido em 8 de setembro de 2004, foi depositado na conta 609727 da agência 3608 do Banco do Brasil. O senador Alvaro Dias disse que o cheque mostra uma " ligação muito estranha " e que comprova a " intimidade " das empresas de Marcos Valério com o PT. " O valor não é relevante, mas prova a associação de Valério e PT. Mostra a intimidade do PT e de seus empreendimentos " , afirmou o senador. O cheque em poder da CPI é assinado pelo ex-tesoureiro do partido, Delúbio Soares. A nota fiscal de prestação de serviços de propaganda e publicidade nº 002421, emitida pela MultiAction em 16 de agosto de 2004, menciona a coordenação e a operacionalização de um evento, mas sem citar qual. A descoberta reforça as suspeitas de " parceria estreita " entre o PT e as empresas de Marcos Valério, já reveladas pelos empréstimos do partido avalizados pelo empresário. O ex-tesoureiro Delúbio Soares informou que o PT tinha R$ 39 milhões em empréstimos em seu nome no Banco Rural e BMG. " São ligações fortes, que precisam ser investigadas muito a fundo pela CPI " , disse o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), sub-relator de movimentação financeira da CPI. A direção da Telemig Celular e da Amazônia Celular afirmou ontem que a divulgação de informações sigilosas da CPI Mista dos Correios, dando conta de que as duas empresas estão no topo da lista de depositantes nas contas da DNA Propaganda no Banco do Brasil, causa " prejuízos irreparáveis " e pode " influir [negativamente] na cotação das suas ações " .

Segundo fato relevante assinado pelo diretor de relações com investidores das teles, Ricardo del Guerra Perpetuo, as informações veiculadas ligando as operadoras à DNA e à SMP & B são " infundadas " . O comunicado diz que a DNA tem contrato com a Telemig Celular desde 1998 e com a Amazônia Celular desde 2001, enquanto a SMP & B foi contratada pelas companhias a partir de 2001. Dos investimentos em marketing, cerca de R$ 112 milhões foram dirigidos às agências de publicidade de Marcos Valério Fernandes de Souza pelas duas empresas, no período entre 2000 e o primeiro trimestre de 2005. Na Amazônia Celular, o montante atinge R$ 33 milhões entre 2001 e 2005. Segundo o fato relevante, levantamento preliminar das operadoras indica que apenas 10% dos pagamentos feitos pela Telemig Celular às agências de Valério ficaram efetivamente com elas. Isso porque cerca de 73% dos recursos foram pagos à DNA e à SMP & B, mas posteriormente repassados a órgãos de comunicação para veiculação de propaganda. Produtoras e gráficas teriam ficado com 10% do valor total.