Título: Juro médio cai pela 1ª vez no ano
Autor: Alex Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 28/07/2005, Finanças, p. C1
Crédito Bancário Taxas recuam com o fim do aperto monetário e custo de captação menor
O fim do ciclo de aperto na política monetária teve os seus primeiros efeitos positivos sobre o custo do crédito bancário. Em junho, as taxas médias dos empréstimos tiveram discreto recuo, para 49% ao ano, ante 49,4% ao ano observados em maio, mostram os números do Banco Central. Foi a primeira queda dos juros bancários desde dezembro de 2004. O chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, afirma que os juros se reduziram, entre outros fatores, porque em junho caiu o custo de captação dos bancos - que tem forte correlação com os juros futuros e com os movimentos do BC em sua política monetária. Em junho, o custo médio de captação dos bancos recuou a 19,2% ao ano, ante 19,4% observados um mês antes. A queda no custo de captação dos bancos é reflexo da política monetária um pouco menos restritiva. Embora apenas em meados de junho o BC tenha decidido encerrar o ciclo de alta da taxa básica - mantendo a meta da Selic em 19,75% ao ano -, esse movimento foi parcialmente antecipado pelo mercado, com o recuo dos juros futuros. Lopes diz que é inegável os efeitos da política monetária menos restritiva sobre os juros, mas pondera que ainda é cedo para se falar em uma nova tendência. "Será necessário observar outros meses para termos um diagnóstico mais preciso", ponderou. Ele assinala ainda que, além do juro básico, há fatores microeconômicos por trás da queda das taxas dos empréstimos - é o caso, citou, da compra de carteiras de crédito de lojas de varejo por bancos. As redes de varejo operam com juros menores e, quando suas operações são incorporadas às carteiras do sistema financeiro, caem as taxas médias. Foi o primeiro movimento significativo de queda de juros bancários desde meados de 2004, quando o BC começou a sinalizar sua intenção adotar uma política monetária mais restritiva - em dezembro, houve uma queda momentânea, revertida em janeiro. Os dados do BC divulgados ontem mostram que o recuo das taxas em junho foi generalizado, em linhas para pessoas físicas e jurídicas, com exceção dos juros do cheque especial. As taxas médias nos empréstimos para pessoas físicas recuou de 65,7% para 64,7% entre maio e junho. Para as empresas, a queda foi um pouco menos expressiva: de 33,7% para 33,4% ao ano. Além do menor custo de captação, influenciou positivamente na queda dos juros a redução do spread - diferença entre o custo de captação e de aplicação dos bancos. O spread médio geral para empréstimos livres recuou de 30 para 29,8 pontos percentuais (p.p.). Para as empresas, a queda do spread foi de 0,2 p.p. (para 13,6 p.p.) e, para pessoas físicas, de 0,5 p.p. (a 46,3 p.p.). A queda nos juros foi particularmente pronunciada nas linhas com taxas prefixadas - as que sofrem maior influência dos custos de captação. É o caso do desconto de duplicatas, que recuou de 43,4% para 42,6% ao ano; do capital de giro, de 41,2% para 39,6%; e da aquisição de bens, que caiu de 31,6% para 31,3%. Nas linhas prefixadas para pessoas físicas, a queda foi igualmente expressiva. No crédito pessoal, passou de 77,2% para 76,2%; na aquisição de veículos, de 37,4% para 36,9% ao ano. O maior recuo foi nas linhas de financiamento de aquisição de bens: as taxas caíram de 57,8% para 54,1% ao ano entre maio e junho. O cheque especial foi a única linha cujos juros subiram: de 147,6% para 148% ao ano. O encarecimento se deve à elevação do spread, de 129,5 p.p. para 130,2 p.p. O custo de captação no crédito pessoal caiu de 18,1% para 17,8% ao ano, mas os bancos não repassaram esses ganhos aos clientes e ampliaram suas margens.