Título: Caderneta deve injetar mais R$ 2,3 bi aos financiamentos
Autor: Mônica Izaguirre
Fonte: Valor Econômico, 28/07/2005, Finanças, p. C3

Crédito Imobiliário Acordo prevê crescimento mínimo de 45% neste ano

Pelo menos R$ 2,312 bilhões de recursos captados em caderneta poupança deverão ser destinados à concessão de novos financiamentos imobiliários no segundo semestre deste ano, caso o Conselho Monetário Nacional (CMN) implemente hoje o acordo firmado entre os bancos e o setor da construção civil. Assinado no fim de junho, o compromisso prevê que, no acumulado de 2005, o volume de novos empréstimos seja no mínimo 45% superior ao de 2004. Segundo a Associação de Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), excluindo-se a Caixa Econômica Federal, cujas operações não são consideradas no acordo, as contratações de financiamento com recursos da poupança somaram R$ 3 bilhões no ano passado. Em 2005, portanto, terão que chegar no mínimo R$ 4,350 bilhões, R$ 2,038 bilhões dos quais já contratados no primeiro semestre. "Nossa expectativa é de que o governo defina como regra o que está no acordo", disse ontem ao Valor o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Paulo Simão Safady. "Nós também queremos que a decisão do CMN reflita o que foi acertado com a CBIC no fim de junho", acrescentou o diretor geral da Abecip, Osvaldo Correa Fonseca, desfazendo a idéia de que os bancos teriam recuado. Declarações dadas nos últimos dias pelo presidente da Abecip, Décio Tenerello, levaram a CBIC a acreditar que o acordo estava sendo rompido. Segundo esclareceu ontem o diretor geral, porém, em nenhum momento a Abecip pensou em voltar atrás e pedir ao governo que fixe um piso de incremento inferior a 45% sobre 2004. Conforme Fonseca, o que Tenerello fez foi apenas alertar que houve uma desaceleração da demanda pelos financiamentos no segundo trimestre. "Na média do primeiro semestre, a meta (que segundo a CBIC era de R$ 1,9 bilhão no período) foi ultrapassada. Mas a curva é declinante", disse Fonseca ao Valor. "Ainda assim a Abecip continua a defender os 45%". O presidente da CBIC reconhece que houve desaceleração as contratações. Mas diz que isso é culpa dos bancos que, segundo ele, deixaram de cumprir integralmente os dois acordos anteriores firmados com a CBIC, para o primeiro e segundo trimestres de 2005. "Na maioria das instituições, os produtos de crédito imobiliário ainda não foram adequados para atender às famílias cuja renda permite adquirir imóveis na faixa entre R$ 40 mil e R$ 80 mil", diz Paulo Safady, referindo-se, por exemplo, a redução de juros, alongamento de prazos e redução do valor mínimo do imóvel a ser adquirido. Conforme Safady, essa é a faixa da população para a qual praticamente não há oferta de financiamentos imobiliários. Se, de um lado, não tão tão pobres para ter acesso a linhas subsidiadas da Caixa, de outro, essas famílias não têm renda suficiente para preencher as exigências dos bancos privados, explica ele. O presidente da CBIC reclama ainda da concentração da oferta crédito na Região Sudeste. Fonseca nega que os bancos tenham deixado de cumprir os acordos anteriores, ainda que parcialmente. Segundo ele, os produtos foram adequados e estão sendo oferecidos. Ma isso, explica, não se reflete nas estatísticas porque o governo só permitiu redução de juros e flexibilização de prazos em operações com mutuários finais e não a empresas de construção, que são as que efetivamente buscam crédito para imóveis novos. Ele lembra ainda que foi o próprio acordo com a CBIC que exigiu prioridade à produção e não à aquisição de imóveis já existentes.