Título: BNDES diz que Brasil deve controlar os novos projetos de usinas de aço
Autor: Ivo Ribeiro e Vera Saavedra Durão
Fonte: Valor Econômico, 27/10/2004, Brasil, p. A-2

Os grupos siderúrgicos estrangeiros virão montar novas usinas no Brasil, mesmo que não sejam controladores do capital dos empreendimentos, garante Darc Costa, vice-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Em entrevista ao Valor, Darc disse que a política do banco para o setor de aço visa assegurar o aumento da produção do país, desde que o controle das empresas estejam em poder de capital nacional. Darc argumenta que o Brasil dispõe também de vantagens comparativas - não apenas competitivas, como minério de ferro de alta qualidade - que permitem erguer um parque siderúrgico que pode mais que dobrar a produção do país por volta de 2010. "Temos vantagens geográficas em relação a Índia, China e Rússia. Estamos mais próximos do mercado americano, que será grande consumidor de semi-acabados, como placas." "Nossa preocupação é que esses grupos vão transformar o país, mais cedo ou mais tarde, em um centro de custo da siderurgia mundial", afirmou. O Brasil, segundo Darc, tem condições de desenvolver siderúrgicas fortes para competir em um cenário de concentração mundial, que vem criando gigantes como Arcelor e Mittal Steel, em patamares que vão de 40 milhões para 60 milhões de toneladas ao ano. Ele exemplifica com o novo projeto da Cia. Siderúrgica Nacional (CSN), em Itaguaí (RJ), que ontem obteve a aprovação da diretoria do banco para seu enquadramento nos programas de financiamento ao setor. "Será uma usina de 5 milhões de toneladas, para produção de placas para exportação e, no futuro, também atender o mercado interno." Segundo Darc, o BNDES poderá ser também acionista desse empreendimento da CSN, avaliado em cerca de US$ 2,5 bilhões, além de financiador. Até o fim do ano, o banco poderá conceder a aprovação final ao projeto. Para o pólo do Maranhão, que prevê três usinas produzindo 24 milhões de toneladas a partir de 2010, ele assegurou que existe capital de grupos brasileiros para garantir o controle no país. "Só não vou revelar nomes porque há segredos de negociações", afirmou. O BNDES, relembrou ele, tem R$ 47 bilhões neste ano e mais de R$ 60 bilhões em 2005 para apoiar novos projetos e expansões no país. De acordo com Darc, não existe só a Vale do Rio Doce, que reforça sua estratégia de atrair clientes para investir no país e ser apenas minoritária no negócio. "A visão da Vale é de curto prazo e busca só valorizar suas ações na Bolsa da Nova York", diz Darc. O banco, reafirmou ele, está pronto para ser acionista nos projetos se for preciso. A consolidação de uma grande siderúrgica brasileira, segundo ele, encontra barreira na complicada estrutura societária de Usiminas/Cosipa, que tem capital pulverizado em vários acionistas. "Seria o ideal o país poder ter um grande grupo nacional no aço, que hoje ficou complicado construir devido à privatização fragmentada do setor." Para a CSN, segundo Lauro Resende, diretor de investimento da, sua estratégia é a mesma dos grupos estrangeiros que querem vir para o país: "Queremos aumentar nossa produção de placas e vendê-las para laminadoras que planejamos comprar lá fora. temos um custo imbatível". A empresa elogia a política do BNDES. "Mais que a consolidação do setor, o banco está empenhado em ampliar a capacidade produtiva do país." Segundo ele, as siderúrgicas brasileiras não estão paradas frente à janela de oportunidade no mundo. "Nós temos projetos de aço e minério de ferro e vamos desenvolvê-los no tempo certo". A CSN teve enquadrado no BNDES, além de projeto da usina de Itaguaí, a expansão da produção da mina de minério de ferro de Casa de Pedra para 31 milhões de toneladas, mais melhorias no porto e a construção de uma pelotizadora. O investimento total será de R$ 782 milhões. "Estamos conversando com o banco para saber exato qual vai ser sua participação nesse financiamento", O projeto de Itaguaí ainda não passou pela aprovação do conselho de administração da CSN, presidido por Benjamin Steinbruch, informou Resende. Mas, para ele, seu enquadramento pelo BNDES vai incentivar a empresa a levá-lo adiante. A CSN poderá também, dependendo de aquisições no exterior, fazer mais um alto-forno na usina de Volta Redonda.