Título: Relator questiona contas, mas empresa mantém valor
Autor: Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 29/07/2005, Política, p. A5

As contas não fecham. Uma análise preliminar feita pelo relator da CPI Mista dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), nas operações financeiras entre empresas e as agências de publicidade do empresário Marcos Valério de Souza revelam uma grande diferença entre os depósitos e o valor efetivo da prestação de serviço. Isso fortalece a tese, na avaliação de parlamentares da CPI consultados pelo Valor, de que essas empresas usaram a DNA Propaganda e a SMP&B para financiar de forma ilegal campanhas eleitorais. Serraglio disse que a CPI ainda não analisou especificamente os casos das empresas que pertencem ao grupo Opportunity, de Daniel Dantas. Operadoras de telefonia do grupo depositaram, juntas, cerca de R$ 127 milhões nas contas da DNA Propaganda. O relator informou que a CPI fará uma pesquisa sobre os custos de publicidade na área de telefonia. "Vamos ter que fazer um encontro de contas entre tudo que entrou nas empresas do Marcos Valério oriundo do Opportunity e as respectivas prestações de serviços", concluiu o deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA). O senador Álvaro Dias (PSDB-PR), também da comissão, considera que provavelmente boa parte dos recursos foi utilizada para caixa 2. "O dinheiro deve ter sido utilizado neste grande sistema que montaram para financiamento do sistema político", disse. Os pagamentos feitos às agências de publicidade de Marcos Valério representaram 41% dos gastos com marketing feitos pela Telemig Celular e Amazônia Celular entre 2000 e o primeiro trimestre de 2005. As operadoras informaram, por meio da assessoria de imprensa, que investiram R$ 272,1 em marketing nesse período. Anteontem, disseram à Comissão de Valores Mobiliários que pagaram R$ 112 milhões nesse mesmo intervalo às agências DNA e SMP&B, do empresário mineiro. Segundo informações as operadoras, as despesas com marketing têm se mantido relativamente estáveis desde 2000. No ano passado, as duas empresas administradas pelo Opportunity gastaram R$ 58,4 milhões em marketing, o equivalente a 3,53% da receita líquida combinada obtida por elas, de R$ 1,65 bilhão. Os números, de acordo com a assessoria de imprensa, fazem parte das despesas com vendas disponíveis nos balanços das companhias. Duas grandes agências de publicidade de São Paulo, consideram "razoáveis" os investimentos em marketing pela Telemig Celular e pela Amazônia Celular, entre 2000 e março deste ano. Um dos publicitários ouvidos pelo Valor, cuja agência está há mais de 25 anos no mercado, disse que os parâmetros utilizados para auferir os gastos publicitários nos rankings disponíveis no mercado, não dão um quadro preciso de todos os investimentos realizados pelas empresa. Isto porque, explica ele, a medição concentra-se nos valores aplicados em mídia (televisão, rádio, jornais e revistas, outdoor, internet) e não considera outros gastos com comunicação e marketing como ações em pontos-de-venda, promoções, eventos de relacionamento, programas de fidelização e até mala-direta. "Considerando-se que o setor de telefonia é um dos mais ativos em marketing, os valores informados pelas empresas não são exorbitantes", conclui outro executivo.