Título: Relator suspeita da lista do Banco Rural
Autor: Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 29/07/2005, Política, p. A5

Crise CPI pediu informações detalhadas à Polícia Federal sobre operação e apreensão de documentos

Diante da frustração dos parlamentares que integram a CPI Mista dos Correios com o conteúdo de documentos enviados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) na quarta-feira ao Congresso, a comissão decidiu, ontem, solicitar informações detalhadas à Polícia Federal sobre a operação de busca e apreensão de documentos no depósito do Banco Rural em Minas Gerais. Foram enviados ofícios ao diretor-geral da PF, Paulo Lacerda, e ao delegado Luiz Flávio Zampronha, responsável pelo inquérito do suposto esquema de corrupção. Pelas informações preliminares que chegaram à comissão, esses documentos mostrariam uma ampla lista de saques feitos no Rural das contas de empresas de Marcos Valério Fernandes de Souza. Os parlamentares que passaram horas analisando os documentos concluíram que as revelações não atingem tantas personalidades políticas, o que gerou inquietações. O relator da CPI, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), insinuou ontem que alguns documentos podem ter sido retirados do depósito do banco, e fez questionamentos sobre a ação da Polícia Federal. Foi a partir do depoimento de José Francisco de Almeida Rego, ex-tesoureiro do Rural, que a polícia mineira tomou conhecimento da existência da documentação que explicaria o esquema de distribuição de dinheiro a partir das agências de publicidade SMP&B e DNA Propaganda. A PF fez duas apreensões no depósito do Rural, segundo relato de Serraglio. Uma ocorreu às 16h, e a segunda somente às 20h40 do dia seguinte. O relator disse que a PF precisa explicar as razões para ter voltado ao depósito após a primeira apreensão. "Queremos mais detalhes sobre essa diligência", afirmou Serraglio. Os documentos apreendidos no Banco Rural pela PF em Minas Gerais foram, em seguida, enviados ao Supremo Tribunal Federal. A alegação é que haveria nomes de parlamentares na lista de sacadores. Como os parlamentares têm o direito de julgamento em foro especial, o procedimento correto era o envio ao Supremo. Entre os integrantes da CPI, circulava a informação que o STF teria mais de 120 nomes de sacadores. Quando os documentos chegaram à CPI, foi só decepção. "Imaginem: o cidadão (o ex-tesoureiro) que sabe dos dados, anuncia na PF: lá no depósito estão todos os documentos. Isso (a informação) vazou para todo mundo. De repente, na nossa coleta de dados não vem essa relação, não vem nada", analisa o relator. Quando questionado se levantava a possibilidade de destruição ou seleção de alguns documentos, Serraglio não foi incisivo: "Não tenho a hipótese do que possa ter acontecido". No dia em que os documentos chegaram, vários parlamentares, nos bastidores, se indagavam sobre a possibilidade de alguns documentos terem sido retirados pelo Rural antes da apreensão da PF ou até mesmo de desvios pelo longo percurso até Brasília. Pelo menos três parlamentares consultados pelo Valor consideram improvável qualquer uma das duas hipóteses. Para o relator, é preciso, apesar de todas as indagações, analisar detalhadamente toda a documentação que está disponível à CPI. "Ninguém tem muita paciência para olhar detalhes, papel por papel. Nas remessas enviadas pelo Supremo, apareceram muitos valores que ainda não tinham sido identificados (pela CPI)", concluiu Serraglio.