Título: Virgilio acusa Márcio Thomaz Bastos de complô
Autor: Raymundo Costa
Fonte: Valor Econômico, 29/07/2005, Política, p. A5

No dia em que mais foi assediado por instituições financeiras internacionais interessadas em avaliar a crise política e o futuro do presidente Lula da Silva, o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), anunciou o rompimento do diálogo do partido com o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos. O tucano acusa o ministro de ter montado "um complô palaciano" para envolver o PSDB na crise e tentar limitar as denúncias de corrupção a crime eleitoral. "Ele [Thomaz Bastos] perdeu a condição de dialogar, se apequenou, se amiudou", disse Virgílio. Segundo o líder tucano, o PSDB mantinha ainda duas frentes de interlocução com o governo, o próprio Thomaz Bastos e o ministro da Fazenda, Antonio Palocci. A partir de agora a conversa deve se restringir a Palocci, de quem Arthur Virgílio também cobra explicações para as denúncias envolvendo seu ex-assessor Rogério Buratti. Ontem, o novo coordenador político do governo, Jaques Wagner, tentou falar com o líder do PSDB, mas houve desencontro de agendas. Segundo Virgílio, o ministro Thomaz Bastos é o arquiteto da explicação de caixa 2 para o dinheiro movimentado pelo empresário Marcos Valério, admitida em entrevistas seguidas do empresário, do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares e por Lula, numa entrevista em Paris. O tucano também acusa Thomaz Bastos de armar operações "estridentes" da Polícia Federal coincidentes com denúncias "lesivas ao governo". Para Virgílio, o ministro se desgastou e perdeu estatura ao se transformar no que ele chama de "tarefeiro do governo". Na avaliação de Virgílio, o objetivo de Thomaz Bastos não é o presidente do PSDB, Eduardo Azeredo (MG), cuja campanha à reeleição ao governo de Minas Gerais, em 1998, também recebeu dinheiro de Marcos Valério. "Ele quer é o Aécio Neves", disse, referindo-se ao atual governador mineiro. "Nós tivemos a informação e avisamos o Aécio de que a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) está bisbilhotando sua vida pessoal e a vida empresarial do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE)". Apesar do ataque ao ministro da Justiça, Arthur Virgílio disse que o PSDB está preocupado com a possibilidade de o Congresso ficar imobilizado e aceita discutir uma agenda mínima de votações. Citou especificamente a reforma tributária, que tramita na Câmara, o projeto de independência do Banco Central e uma agenda microeconômica. "A crise é grande e o único gesto de defesa do governo é tentar dividir culpa. O PT não duvida de que Lula não sabia dos atos de Delúbio Soares, mas tem certeza de que o Eduardo Azeredo sabia do Marco Valério em sua campanha". Virgílio foi procurado ontem por diretores de bancos, fundos de investimento e fundos de pensão ingleses, alemães e canadenses que percorrem o Congresso tentando entender a crise. A preocupação das instituições vai desde a possibilidade de Lula adotar posições "chavistas" até a estratégia do PSDB para 2006, passando pelo futuro do PT e como seria eventual segundo mandato de Lula. Virgílio assegurou que o PSDB não pedirá o impeachment de Lula, "a menos que apareça um vínculo muito forte" do presidente com as denúncias. "Lula é um pato manco que terá de encontrar forças para transitar até o final do mandato".