Título: Delfim Netto propõe controle de capitais
Autor: Sergio Lamucci
Fonte: Valor Econômico, 02/08/2005, Brasil, p. A3

A valorização do câmbio continuar a causar desconforto entre economistas e levou o deputado Delfim Netto a propor a adoção de controle de capitais. O grande problema, segundo os analistas, é que a manutenção dos juros em níveis elevadíssimos tem acentuado a queda do dólar, num cenário de liquidez internacional abundante e fluxo comercial expressivo. Controlar capitais de curto prazo amenizaria essa tendência, na opinião de Delfim e do professor Luiz Gonzaga Belluzzo, da Unicamp, que participaram de seminário em São Paulo. O ex-presidente do Banco Central (BC) Ibrahim Eris não gosta da idéia, por avaliar que o BC tem outros instrumentos para impedir a valorização do câmbio, mas também ataca o dólar barato. Delfim criticou o uso do câmbio valorizado como arma para combater a inflação. "Nós sabemos que isso acaba mal", afirmou ele, advertindo que a manutenção do dólar nos atuais níveis pode ter "inconvenientes muito graves". Pai da proposta de déficit nominal zero e freqüente interlocutor do presidente Lula e da equipe econômica, Delfim disse que é importante adotar medidas de controle de capitais de curto prazo, como a quarentena - mecanismo que define um período mínimo para os recursos ficarem no país. Segundo ele, parte da queda do dólar se deve a um movimento de capitais provocado por arbitragem entre os juros externos e internos, algo que só se resolve baixando as taxas. Como isso não vai ocorrer logo, controlar a entrada de recursos de curto prazo poderia atenuar o problema. Belluzzo também se disse favorável às medidas de controle de capitais, afirmando que as defende há muito tempo. "Isso não é uma prática de esquerda ou direita. É uma prática de bom senso. O sujeito que não faz isso não é conservador, é trouxa." Belluzzo também fez críticas à flutuação do câmbio. "Câmbio flutuante é para país rico". País em desenvolvimento, como o Brasil, deve ter câmbio administrado, avaliou. Eris não vê com simpatia a idéia de controlar capitais. Para ele, é algo desnecessário, que cria incertezas. "O governo tem outros instrumentos para eliminar os exageros da valorização do real", afirmou ele, citando o aumento das reservas. Eris disse que o câmbio não está em equilíbrio, principalmente porque uma variável macroeconômica importante - a taxa de juros - também está fora do equilíbrio, na casa de 13% a 14% em termos reais. "O Brasil está transferindo bilhões de dólares para fora desnecessariamente devido a posições em reais que são assumidas por investidores estrangeiros. Não é questão de patriotismo, isso simplesmente está errado." Eris também falou sobre a economia e a crise política. Ele avalia que os efeitos no curto prazo são pequenos, embora tenha notado que a Bolsa brasileira ficou praticamente estável nos últimos dois meses, enquanto as de outros emergentes subiram 10% a 20%. Mas o fluxo de recursos para o Brasil não parou, segundo ele, em grande parte devido ao nível dos juros. "A ganância tem superado o medo", afirmou Eris. Ele se preocupa, porém, com possíveis impactos de longo prazo da crise. O cenário eleitoral de 2006, por exemplo, ficou imprevisível. Para ele, "o governo Lula acabou", uma vez que não haverá condições para aprovar reformas importantes no Congresso até o fim do mandato e nem medidas relevantes na condução da política econômica. O que vai restar é o "feijão com arroz". Colaborou Fernando Nakagawa, do Valor Online