Título: Cerâmicas sofisticadas e de baixo valor ainda esperam recuperação do mercado
Autor: Raquel Landim e Raquel Salgado
Fonte: Valor Econômico, 27/10/2004, Brasil, p. A-6

A onda de otimismo que toma conta do setor ainda não chegou ao ramo das cerâmicas. A Cerâmica Santa Izabel, especializada em tijolos para a construção civil, caminha para o terceiro ano de resultados negativos. Em um ano, mais de 20 empresas do setor fecharam as portas em Itaboraí, no Norte Fluminense, um dos pólos de fabricação de cerâmica, no Estado. "Estamos operando com 60% de nossa capacidade. Mesmo assim, ainda tenho material estocado na empresa", diz o diretor da empresa, Eudézio Gonzalez Menon, que calcula queda de faturamento da ordem de 40%, em 2004. A Cerâmica Brennand, de Pernambuco, é outra que ainda não sentiu os efeitos do reaquecimento. De acordo com o gerente geral Alexandre Fernandes, a fábrica está operando com apenas 50% de sua capacidade de produção, de 24 mil metros quadrados por mês. Com um produto diferenciado e de alto valor agregado, cujos preços podem chegar a R$ 300 o metro quadrado, a empresa tinha a perspectiva de trabalhar nesta época do ano com cerca de 70% de sua capacidade. "Estamos esperando uma melhora real da economia como a que está sendo verificada em São Paulo, onde a construção civil já dá sinais de reaquecimento", observa Fernandes. Em função do desaquecimento do setor, a empresa deve registrar um faturamento 15% menor que o do exercício anterior. Em função da queda no consumo de cerâmicas por parte dos compradores residenciais, a empresa vem redirecionando seu foco para vender para áreas externas. A fabricante de louças sanitárias Luzarte Estrela, de Caruaru, agreste pernambucano, também diz que a recuperação ainda não beneficiou a empresa. Nos últimos 30 dias, as vendas caíram cerca de 20%, segundo o gerente-geral, Fernando Costa. Costa diz que o objetivo era chegar ao final de 2004 utilizando 100% da capacidade de produção, de 80 mil peças ao mês. Mas teve que rever esta meta para 80%. Uma outra dificuldade está na alta dos juros. O gerente-geral da empresa diz que a iniciativa do Copom na semana passada termina por encarecer as operações bancárias da empresa e, em função da própria competitividade do mercado, este custo não pode ser repassado para o consumidor final. Já o diretor da indústria de cerâmica Portobello, Mauro do Valle, diz que houve crescimento nas vendas da empresa nos últimos dois meses em torno de 5% em relação ao mesmo período de 2003. Ele prefere não fazer estimativas de vendas para o ano, mas destaca que a melhora dá indicações de que 2005 será bom. Valle acredita que a recente elevação da taxa de juros, contudo, poderá inibir um pouco esse processo. A Portobello não fez contratações recentes e está, neste momento, usando 100% de sua capacidade instalada. (Colaborou Vanessa Jurgenfeld, de Florianópolis)