Título: Para líder do governo, ex-ministro não precisa de defesa
Autor: Ivana Moreira
Fonte: Valor Econômico, 02/08/2005, Política, p. A6

No duelo verbal que enfrentará hoje no Conselho de Ética com o deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ), o ex-ministro José Dirceu, que retornou à condição de parlamentar do PT paulista por conta da crise política, deve enfatizar que se dedicou exclusivamente às tarefas da Casa Civil nos dois primeiros anos de governo, tendo se distanciado totalmente das atribuições partidárias. Desta forma, Dirceu tentará se distanciar das decisões tomadas pelo ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, que admitiu ter feito caixa 2 de campanha eleitoral por meio de operações financeiras incomuns com o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, dono das agências de publicidade SMP&B e DNA Propaganda. A expectativa é que Dirceu fale pouco, evite provocações e responda a todas as indagações. Ele negará ter conhecimento do suposto mensalão. O PT, até ontem, não havia montado nenhuma claque de apoio a Dirceu. Nem mesmo o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), tinha certeza se assistirá ao depoimento do ex-ministro. Oficialmente, o PT sequer tem líder na Câmara. Um parlamentar pode ser escolhido hoje para ocupar a liderança e prestar solidariedade a Dirceu no Conselho. "O José Dirceu não precisa ser defendido. Ele estará na condição de testemunha, e não de acusado", argumentou Chinaglia. Outra linha que deve ser explorada pelo ex-ministro, conforme parlamentares próximos a ele, é que estará hoje no Conselho de Ética da Câmara na condição de testemunha. A estratégia do PT será enfatizar que o acusado no Conselho é Roberto Jefferson, que responde a um pedido de abertura de processo de cassação de seu mandato por quebra de decoro protocolado pelo PL. Jefferson acusou o PT de operar um grande esquema de caixa 2 para partidos aliados e apontou José Dirceu como o principal mentor de um suposto esquema de compra de votos de parlamentares, apelidado de mensalão. Um ex-assessor de José Dirceu, Roberto Marques, constava na lista dos beneficiários que poderiam sacar recursos da SMP&B. Marques nega ter feito saques. O ex-ministro será questionado sobre o aparecimento do nome do assessor na lista de Marcos Valério. Ontem, ao ser informado da renúncia do deputado federal Valdemar Costa Neto (SP), presidente nacional do PL, Dirceu concluiu que não houve alteração do quadro político. O líder do governo na Câmara informou a Dirceu que Costa Neto não havia confirmado nenhum esquema do mensalão. Roberto Jefferson poderá fazer perguntas hoje a José Dirceu porque é acusado. Não se trata de acareação. Jefferson ou seus advogados têm a prerrogativa de interrogar as testemunhas, devido ao amplo direito de defesa do acusado. Jefferson, conforme sua assessoria de imprensa, manteve a rotina ontem. O deputado não antecipa sua estratégia, mas uma coisa é certa: vai observar detalhadamente o tom do discurso de José Dirceu, e reagirá na mesma moeda. Os parlamentares que conhecem bem o ex-ministro não têm dúvida de que ele está preparado para o embate com Jefferson. Experiente, Dirceu não pretende embarcar em provocações de Roberto Jefferson e promete levar documentos e agendas para comprovar eventuais encontros que teve na Casa Civil. Pode ser instado a dar explicações sobre seus contatos com Marcos Valério, e sobre suas ligações com dirigentes do Banco Rural e do BMG, os bancos que fizeram empréstimos para as empresas de Valério e o PT.