Título: Publicitário insiste em prêmio pela verdade
Autor: Ivana Moreira
Fonte: Valor Econômico, 02/08/2005, Política, p. A6

Os advogados do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza ingressaram, ontem, com três pedidos junto à Procuradoria-Geral da República. Primeiro, eles ratificaram o pedido de delação premiada pelo qual o suspeito de crime penal ganha uma redução de pena caso colabore com as investigações. Os advogados também querem que o procurador-geral, Antonio Fernando de Souza, negue pedido de prisão preventiva contra Valério, aprovado pela CPI dos Correios. Por fim, querem o desbloqueio das contas de sua mulher, Renilda Santiago. O procurador-geral, Antonio Fernando de Souza, negou, no dia 14, o pedido de delação premiada por entender que as investigações ainda estavam sendo iniciadas e a procuradoria poderia obter provas sem a ajuda do acusado. A delação premiada é um acordo entre o réu e as autoridades, pelo qual o primeiro pode ter sua pena reduzida em um ou dois terços caso colabore com as investigações criminais. O procurador-geral informou apenas que irá analisar o novo pedido. Além de ter efeitos jurídicos, a delação premiada também representa uma sinalização política de Valério: a de que ele pode entregar antigos aliados e pessoas que fizeram acordos financeiros e políticos com ele no passado. Ou seja, a disposição de Valério de contar tudo, desde que tenha sua pena reduzida. Quanto à prisão preventiva, a análise do procurador-geral não deverá ser tomada de imediato, pois ele pediu aos integrantes da CPI dos Correios que fundamentem melhor o pedido. Já o bloqueio da conta de Renilda foi determinado a pedido do próprio Antonio Fernando pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Nelson Jobim, há duas semanas. O objetivo foi o de evitar um saque de R$ 1,89 milhão por Renilda. A assessoria de Antonio Fernando informou que ele decidirá sobre os pedidos dos advogados de Valério a partir de hoje. O procurador-geral participou, ontem, de sessões de julgamento no STF e no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e teve pouco tempo para analisar os pedidos. Antonio Fernando evitou informar aos jornalistas sobre um novo depoimento de Valério. Disse apenas que o depoimento do publicitário, se ocorrer, será tomado pelos três procuradores que ele designou para atuar no inquérito do mensalão - Raquel Branquinho, Alexandre Espinosa e Claudia Marques. O ministro do STF Joaquim Barbosa foi sorteado, ontem, como relator do inquérito sobre o mensalão. Caberá a ele conduzir o processo no tribunal, o que significa: pedir ou negar diligências, tomar decisões urgentes, como o bloqueio de bens de suspeitos, e levar o caso para julgamento no plenário, onde fará o relatório e dará o primeiro voto. Barbosa foi indicado por Lula ao STF em 2003, e a maioria de seus votos, desde então, foi favorável ao governo. Testemunha de defesa de Marcos Valério de Souza, a secretária da SMP&B Adriana Fantini afirmou ontem, em depoimento à 6ª Vara Criminal do Fórum Lafayette, em Belo Horizonte, que a ex-secretária Fernanda Karina Somaggio queria "vantagens financeiras" para não revelar informações sobre a agência e o empresário. Fernanda Karina foi a primeira testemunha nas investigações do mensalão, revelando as relações do empresário com a executiva do PT. Adriana Fantini disse ter recebido vários telefonemas de Fernanda Karina, que dizia estar desempregada, com o dinheiro acabando, e contava que havia sido procurada por um jornalista que queria informações sobre a empresa. Adriana disse que estranhou a conversa, contou para sua chefe, Simone, que resolveu contar para Marcos Valério. Segundo ela, o sócio da SMP&B resolveu mover o processo de extorsão por precaução. A denúncia foi acatada pelo Ministério Público em agosto de 2004, dez meses antes das denúncias do deputado Roberto Jefferson.